sexta-feira, 29 de maio de 2009

CHAMEM O DUDA

CHAMEM O DUDA!
Ouvi de um governador, há muitos anos: “Quem senta nesta cadeira fica sabendo tudo que acontece”. A afirmação faz sentido porque a dinâmica do poder envolve informação. O poder gosta de informação e vice-versa. Assim, quando surgiram as denúncias sobre o mensalão, pareceu-me impossível que o presidente não estivesse a par dos fatos em curso no seu governo, no seu partido e na sua base de apoio numa época em que surpreendentes votos parlamentares e inusitadas adesões lhe caíam no colo como casca de amendoim em festa caipira.
Trezentos “picaretas” mudaram de lado, mas Lula manteve-se firme na negativa: não sabia como, nem por que. Roberto Jefferson, aliás, quando indagado sobre o destino dos quatro milhões de reais que recebera, afirmou: “Não conto nem amarrado na árvore levando facãozada”. Lula tampouco.
Com o passar dos meses, avizinhando-se nova eleição, a cartilha aperfeiçoou a estratégia. Melhor do que negar conhecimento do fato, e melhor ainda do que negar a própria existência do fato, era atribuí-lo à malícia dos adversários. Tudo não passara de sórdida manobra da direita para atingir a honra de um governo que subira a rampa do Planalto como Jesus entrou em Jerusalém. A estratégia funcionou direitinho. Lula e seus discípulos voltaram nos braços do povo. Dinheiro em mala, envelope, maleta, cueca, caixa de uísque, carro-forte, avião e ônibus é apenas dinheiro. E dinheiro é coisa de que todo mundo gosta. Cerrrto? Eis que passados dois anos rangem gonzos no cemitério. Arrasta-se a tampa do túmulo onde jazia a figura tenebrosa. E o mensalão ressurge do mundo dos mortos para assombrar os muito vivos da política nacional.
É o próprio STF que acolhe, on-line e a cores, as denúncias de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha. Mas que falta de assunto, seu! Com tanto escândalo fresquinho vão desenterrar esse cadáver! Escondam a Ângela Guadagnin e chamem o Duda! Há que construir, com urgência, uma versão para o que está acontecendo.
A experiência permite antever algumas das possibilidades argumentativas da situação. Assim, por exemplo, pode-se atribuir ao STF torpes intenções. Aliaram-se os togados do Supremo, os fatigados do “Cansei!” e os enlutados do “Luto Brasil”. Todos golpistas, claro. Ou assemelhar a conduta daquela corte, onde a maioria dos membros foi indicada por Lula, à traiçoeira punhalada desfechada por Brutus em César: “Até tu, Joaquim, meu filho!”. Ou sustentar que o Supremo está servindo aos interesses do grande vilão George Bush, inconformado com o triângulo amoroso Lula-Chávez-Fidel. Ou espalhar a notícia de que aqueles senhores e senhoras, de ar sisudo e toga preta, assim que termina a reunião, se cobrem de branco, enfiam um capuz pontiagudo na cabeça e saem a tocar fogo em cruz de madeira. Ou repetir o mantra de que o grande culpado foi o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, que, em mil novecentos e antigamente, teria inaugurado o valerioduto (algo como dizer que Santo Dumont é o responsável pelo acidente da TAM).
Agora, cá entre nós. Sabem quem eu gostaria de ver no banco dos réus? Esse sistema político que ao tempo da CPI era chamado de “corrupto e corruptor” pelos mesmos que, após a reeleição, trataram de mantê-lo, acrescido de instrumentos que, entre outras banalidades, os perpetuariam no poder. Fonte: Percival Puggina Zero Hora, 02/09/2007

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