"Guardai-vos do fermento dos
fariseus” que é a hipocrisia. Porque nada há oculto que não venha a
descobrir-se, e nada há de escondido que não venha á saber se. Por isso, as
coisas que dissestes nas trevas serão ditas às claras, e o que falastes ao
ouvido nos quartos será apregoado sobre os telhados (Lc. 12,1-13)
Há quem ande bisbilhotando os namoros e
infidelidades conjugais de antigos ocupantes do trono presidencial para mostrar
que nada de extraordinário ocorre no affaire de Lula com Rosemary Névoa de
Noronha. Opa! Uma coisa; é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
As aventuras de Lula, enquanto
aventuras, só interessam a ele e, provavelmente, a dona Mariza Letícia. Mas não
é disso que se vem tratando. Não consta dos anais da história que algum outro
presidente tenha criado um cargo para acomodar convenientemente sua namorada.
Aliás, o cargo, com as atribuições que bem convinham aos dois pombinhos, era
tão desnecessário que a presidente Dilma o extinguiu de um dia para o outro.
Qual outro presidente teve a ousadia de conceder passaporte diplomático à sua
amante e a fez embarcar com ele em dezenas de viagens oficiais, com direito a
diárias é ás custas do erário, constrangendo a tripulação? Qual outro
presidente da República deu-se ao desplante de determinar que o nome de sua
manteúda fosse omitido da lista de passageiros, num desrespeito a normas
nacionais e internacionais relativas ao tráfego aéreo? Nenhum presidente falou
tão bem de si mesmo e nenhum chegou tão longe no uso abusivo do poder para
atender conveniências pessoais. Nisso e em muitas outras coisas, Lula
enxovalhou o cargo que ocupava. E prevaricou.
Ele aprendeu ainda cedo, nos tempos do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a usar as instituições e seus recursos para
fins políticos partidários (Augusto Nunes, em Direto ao Ponto, 10/09/2012). Nem
as viúvas dos companheiros que procurassem o sindicato escapavam das investidas
de Lula (entrevista dele próprio à revista Playboy, mês de julho de 1979). O
sindicalismo brasileiro tem longa ficha corrida de mamatas, boquinhas e abusos.
Por isso é impossível dizer se Lula foi professor ou aluno numa escola de
malandragens. Mas tornou-se, também nelas, Doutor Honoris Causa.
O desempenho de funções de mando com
respeito aos limites determinados por necessário senso moral não fazem parte de
sua biografia. Foi graças a essa característica de seu caráter que, sem
qualquer constrangimento, uniu-se àqueles a quem mais atacara e trouxe para
perto de si quase todos os maiores patifes da República.
Espanta-me que certas pessoas de seu
partido, tão verticais quanto doutrinárias e professorais quando se tratava de
cobrar espírito e conduta republicana de seus opositores, ergam-se agora em
defesa de malfeitores condenados pelo STF. E formem tropa de choque para
blindagem de um ex-presidente que sempre se julgou acima da lei e governou o
país rodeado por quase todos os trezentos congressistas que ele mesmo, como
deputado, contabilizara como picaretas. Deus cria, a vida separa e o diabo
junta.
Para concluir: em profundo
constrangimento devem estar os jornalistas que cobrem o cotidiano da
presidência da República. Foi preciso uma ação da Polícia Federal para trazer a
lume algo que passou batido por todos eles ao longo de oito anos e dezenas de
viagens presidenciais! Ou foram patetas ou se fizeram de patetas, seguindo o
exemplo do nosso estadista de Garanhuns. Um jornalismo nada republicano esse,
também.
Autor: Percival Puggina (67) é
arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e
de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões
Difusão:
Geraldo Porci de Araújo. 16/12/2012,
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