Não,
o senador Demóstenes não matou a oposição. Não se mata o que não existe. De
tempos para cá, em Brasília, só há governo. As pessoas me param na rua:
"Cadê a oposição?". Pois é. A construção da hegemonia chegou ao
telhado e já faz os arremates da cumeeira, com o total sumiço da oposição como
força política perceptível. O discurso oposicionista é quase confidencial.
Nem
durante os governos militares a oposição foi tão reservada. Ao contrário do que
os atuais comissários da história querem fazer crer, aquela atividade
oposicionista, comparada com a atual, era estrepitosa. Havia interesse e espaço
nos meios de comunicação suficientes para que se afirmassem lideranças. Embora
a época fosse menos midiática, todos conheciam Tancredo, Brossard, Ulysses,
Simon, Montoro, Covas, Teotônio, bem como os cassados - Brizola, Arraes,
Juscelino, Lacerda. Eram tratados assim. Um nome só bastava, tal a intimidade.
Sabia-se o que pensavam e faziam.
Não
se atribua a acomia e á anemia, oposicionistas à falta de atrativos da direita,
tipo assim: se a direita fosse moça, num baile do tempo antigo, passaria a
noite fazendo tricô. Definitivamente não. Quaisquer pesquisas que investiguem
opiniões sobre temas específicos revela que os brasileiros se posicionam,
majoritariamente, do centro para a direita do arco ideológico. A maioria é a
favor da ordem e contra a violência como instrumento da política. Quer um
Código Penal severo e que as penas sejam cumpridas. Deseja reduzir a maioridade
penal. Defende o direito de propriedade e rejeita invasões. É contra a proibição
à posse de armas de defesa. É contra o aborto (as mulheres ainda mais do que os
homens). Reconhece o valor da instituição familiar e da religião. Rejeita tipos
como Fidel, Chávez e Morales. Quer que seja preservada a vida privada e não
admite marcos regulatórios para a mídia. Em outras palavras, recusa de A á Z a
agenda do partido do governo. Este, no entanto, usou a cabeça. Primeiro,
assumiu o programa econômico que derrotara nas urnas. E, depois, foi ao mercado
comprar quase toda a esquerda, quase todo o centro e quase toda a direita.
Bastaria isso para esvaziar a oposição. Só não está no governo quem não quer.
Bombom tem para todo mundo.
O
presidencialismo brasileiro, tão ruim que só fica de pé se bem escorado,
fornece ambiente ideal às hegemonias. Ao longo da Primeira República, foi
sustentado pela política dos governadores. Quando ela se rompeu, manteve-se
pela ditadura de Vargas. Quando ele renunciou, seguiu-se um tempo de balança
mas não cai, até cair. Reergueu-se com a política dos generais. E desde 1985
temos isto que agora alcança seu orgasmo: o presidencialismo de coalizão, com
longo arco de abrangência e grande capacidade financeira de atrair interesses.
Entenda-se: o grupo hegemônico é a fonte do poder, dos privilégios, dos cargos
e contratos, e dos maiores favores que se possa conceber. É um poder do qual
poucos admitem ficar longe, mormente os bandidos. Nada que não se explique pelo
mais elementar conhecimento da natureza humana.
Como
resultado, quem quiser saber o que a oposição nacional está pensando ou fazendo
terá que acessar os canais de tevê do Congresso e ver - o que é improvável - se
algum dos poucos oposicionistas está na tribuna. Atingimos em Brasília, simultaneamente, o
cúmulo da hegemonia, da hipocrisia e da venalidade. Na nossa política só o
dinheiro manda e como só o governo tem dinheiro, só existe governo. A oposição,
então, que fale baixo e não atrapalhe os negócios. Zero Hora, 22/04/2012.
Autor. Percival Puggina Difusão: Geraldo
Porci de Araújo: 23/04/2012.
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