18 de
setembro de 2012. Dora Kramer - O Estado de S.Paulo Marcos Valério demorou anos
para se revoltar. Só quebrou o código de silêncio firmado com José Dirceu e
Delúbio Soares para proteger Lula quando se viu diante da evidência de que lhe
havia sido feita uma promessa vã. Confiou que as instituições seriam fiéis aos
coronéis de turno e se renderiam às conveniências do poder. Isso está dito na
reportagem de capa da Veja: "Em troca do silêncio, (Marcos Valério) recebeu
garantias. Primeiro, de impunidade. Depois, quando o esquema (do mensalão) teve
suas entranhas expostas pela Procuradoria-Geral da República, de penas mais
brandas".
E quais seriam essas garantias? Vamos pensar juntos. Não é difícil
percebê-las, partindo do princípio de que, o PT, fez o que fez, confiando, o
que aquela concepção de Lula, sobre os
"300, picaretas"! Que faziam e aconteciam no Congresso era o retrato
do Brasil. Primeira presunção de garantia: controlada pela maioria governista,
comandada por um presidente do PT (Delcídio Amaral) e um relator do PMDB (Osmar
Serraglio), a CPI dos Correios não daria em nada que pudesse produzir maiores e
concretas consequências. Segunda: a Polícia Federal sob as ordens do dublê de ministro da Justiça
e advogado do Palácio do Planalto, Márcio Thomaz Bastos, cuidaria de limitar as
investigações sem levá-las a inconvenientes profundezas. Terceira: indicado e reconduzido ao
cargo pelo presidente da República, o procurador-geral se apresentasse denúncia
não o faria de maneira consistente.
Quarta: de composição majoritária teoricamente "governista" e
de inescapável apego a formalidades, o Supremo Tribunal Federal não abriria
processo. Quinta: complexa e ampla demais, a denúncia não se sustentaria na
fase judicial e poderia se estender à eternidade em decorrência de manobras da
defesa. Sexta: o julgamento não ocorreria tão
cedo e, quando acontecesse, crimes estariam prescritos.
Sexta: o julgamento não ocorreria tão cedo e, quando acontecesse, crimes
estariam prescritos. Sétima: permeável à influência dos comandantes da banda, a Corte de
"maioria governista" teria comportamento de poder subordinado. Seja
para absolver os acusados ou para lhes abrandar as punições, conforme a
promessa feita a Marcos Valério sobre o pior que lhe poderia acontecer se
calado ficasse. Como a realidade mostrou e ainda não se cansou de demonstrar, o
Brasil não é tão arcaico, desorganizado, institucionalmente desqualificado nem
tão apinhado de vendidos como supunha o PT ao assumir a Presidência da República.
Há juízes em Brasília, como se repete agora a toda hora. Mas também há
deputados, há senadores, há delegados! Há agentes, de polícia, há procuradores!
Há, sobretudo! Uma sociedade a quem
todos eles respondem em grau de responsabilidade muito maior que a lealdade
supostamente devida ao modelo do "coronel ato" que o PT pretendeu
copiar. Cópia cuja matriz é uma visão equivocada do País. Talvez o erro crasso
do PT tenha sido acreditar que o Brasil era pior do que de fato é. Lambuzou-se
no melado ao imaginar que a posse do Estado lhe conferia poderes ilimitados
para tratar a tudo e a todos como devedores de obediência total e reverência
absoluta a uma hierarquia que só existia na cabeça autoritária do PT.
Caldo de galinha. Nota-se pela cautela da reação às declarações de Marcos Valério para
Veja, que Lula e companhia não sabem exatamente o quê, mas percebem com nitidez
o que vem mais pela frente. Assim como não
compartilham da ilusão da militância de internet de que o mineiro não tenha
falado à revista já que as frases foram alegadamente ditas a terceiros, um
expediente comum na preservação do sigilo da fonte de informações Diante do imponderável e da óbvia existência de lastro (gravações). Acham
melhor não provocar. O esperneio de
Valério revela que a história real é mais feia que a ora narrada pelo Supremo
Tribunal Federal. Pesquisas
de Geraldo Porci de Araújo. 20/09/2012.
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