À
medida, em que transcorrem os votos dos senhores ministros no julgamento do
Mensalão, digo, da Ação Penal 470, dois fenômenos se vão configurando. No
primeiro, evidencia-se a existência, no processo, de um sujeito oculto. Tão
esperto, o sujeito, que sequer precisou de advogado. Ele é doutor. Doutor
honoris causa. No segundo, vai desaparecendo o sorriso nos rostos dos advogados
de defesa. Desenham-se condenações no horizonte de quase todos os réus. Se não
uma sentença para ver, o sol nascer quadrado (quando forem deduzidas as
prescrições, tudo somado e ponderado, pode não sobrar muita coisa), ao menos
uma sentença perante a opinião pública. E, para os políticos, um longo período
sem foto em urna eletrônica.
Entendo,
perfeitamente, todos os papéis desempenhados pelos atores do julgamento. Não os
vou descrever. Fixar-me-ei nos trabalhos dos defensores. Queimaram pestanas na
elaboração de suas teses. Perscrutaram bibliotecas para lhes conferir suportes
jurídicos de boas fontes doutrinárias. Examinaram minuciosamente provas e
perícias. Contrapuseram objeções. Construíram versões. Amealharam documentos. E
escreveram. Quando escreveram! Teses de
defesa e petições que se acresciam a outras teses e petições, formando pilhas e
avolumando os terabytes do processo. E as fadigosas viagens a Brasília para
juntada de documentos, audiências privadas e públicas? Anos a fio. Eu entendo
esses advogados em sua - por enquanto, ao menos - crescente frustração. Nem
sempre terão antevisto um horizonte tão nubloso para seus clientes.
Há,
contudo, algo que me escapa à compreensão. Os advogados dos réus são pagos e,
ao que sei muito bem pagos. Entretanto, na web, nos blogs, nas redes sociais,
milhares de pessoas executam com denodo um não menos volumoso trabalho de
convencimento da opinião pública. Atuam, com desassombro, na defesa dos réus e
do sujeito oculto. Valem-se, de toda
retórica possível para contestar a denúncia e seu acolhimento, os fatos, as
perícias, a razoabilidade, a enorme lista de ocorrências cujo simples enunciado
escancara o caráter criminoso das condutas de seus defendidos. Não silenciaram,
sequer, ante as sentenças já prolatadas: insubmissos, refutam o juízo quase
unânime e demolidor dos ministros do STF. Repetem, sem fadiga, que os fatos não
existiram e que os réus são inocentes como donzelas quinhentistas. Note leitor, que tais defensores exaurem-se
graciosamente. Fazem de tudo isso de graça. Pro Bono, como diriam os
profissionais do Direito. Em nome, apenas, do companheirismo, da ideologia, da
causa. São ou não são uns cidadãos extraordinários? O herói deles, o seu varão
de Plutarco, chama-se Dias Toffoli. Autor: Percival Puggina (67) é arquiteto,
empresário, escritor, titular do site de Zero Hora e de dezenas de jornais e
sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas e Gaviões. Difusão:
Geraldo Porci ded Araújo. 04/09/2012.
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