O velho totalitarismo tornou-se mestre
do disfarce. Durante alguns anos, se fez de morto. Ganhou sapato novo. E chegou
ao poder no dia 1º de janeiro de 2003. Hoje, desfila de terno Armani. Se você,
leitor, é daqueles que ainda imaginam o totalitarismo parado numa esquina,
maltrapilho, barba por fazer, banho por tomar, distribuindo panfletos contra os
patrões e seu "sistema", engana-se. O totalitarismo está no poder e
sua panfletagem se dá pela web. Conta com um exército de blogueiros e editores
de jornais eletrônicos que fazem a mesma coisa de antes com eficiência muito
maior. A velha tática da infiltração para aparelhamento, que outrora ocorria de
baixo para cima, agora é feita desde cima, onde há dinheiro à vontade.
Totalitarismo por quê? Talvez esteja se
perguntando o leitor destas linhas. Afinal, dirá, o regime é democrático, há
eleições e as regras do jogo político são cumpridas. De fato, mas cuidado com
os disfarces. Não espere o totalitarismo, depois dos vexames que passou mundo
afora, exibindo ao público toda sua hórrida nudez. Tampouco o imagine
entrincheirado numa encosta de morro, brincando de Fidel Castro e Che Guevara.
Nada disso. Renovado, tornou-se sutil. Para reconhecê-lo; é necessário, estar, atento
aos detalhes, observar suas principais afeições políticas, verificar quais são
os governantes aos quais dedica seus abraços mais calorosos, o que diz nos
fóruns onde solta o verbo, ler as leis que patrocina e o desapreço que
manifesta ao cristianismo, à família e à economia de mercado.
Poderia desfiar exemplos, contar casos acontecidos
em debates de que participei ou assisti. No entanto, meu assunto aqui diz
respeito a algo novo, a uma recente evidência do que estou afirmando. Todos,
sabemos o quanto a manipulação do vocabulário serve aos projetos totalitários.
Nada era menos republicano, democrático e popular do que as repúblicas
democráticas e populares, nascidas no século 20. Na política, o domínio do
vocabulário serve esplendidamente à construção da hegemonia e carimba o
passaporte do Príncipe para o poder. Gramsci percebeu isso e, aludindo a
Machiavel, disse que o novo príncipe é o partido. Pois bem, se o leitor for
atento ao que se fala nos blogs e sites de relacionamento para onde convergem
milhões de pessoas no país, por certo já deparou com a palavra PIG. Se não sabe
o que é isso, eu traduzo. PIG, que também significa "porco" em
inglês, é a sigla de Partido da Imprensa Golpista, expressão criada pelo
jornalista Paulo Henrique Amorim para
designar a mídia de oposição ao governo.
Ora, ora, caros leitores. Se o jogo
político está sendo jogado em conformidade com as regras. Se os quartéis estão
parados como água de poço tampado. Se não há um único projeto de impeachment
tramitando no Congresso Nacional. Se a oposição, escangalhada, em vão procura
um líder. Se nenhum movimento de massa faz aquilo que o Partido dos
Trabalhadores era, useiros e vezeiros nas suas campanhas de Fora Sarney, Fora
Collor, Fora FHC. Onde, raios, estão os sinais de golpe? A expressão PIG,
criada pelo Amorim, prontamente acolhida pelo totalitarismo de terno Armani e
seus exércitos, só se explica pela dificuldade de conviver com a crítica, com a
oposição, com a fiscalização da imprensa livre, com um judiciário independente
e, portanto, com a própria democracia. Viola! - conforme queríamos demonstrar.
Nem precisaria rejeitar tudo isso junto para ser totalitário. A palavra PIG,
por fim, me remete às páginas policiais, onde, cotidianamente, se leem matérias
sobre crimes passionais cometidos por pessoas que não suportam não serem
amadas. Os totalitários tampouco conseguem conviver com quem não lhes presta
veneração. Autor: Percival Puggina 09/09/2012. (67) é arquiteto, empresário,
escritor, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país,
autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e
Gaviões. Difusão: Geraldo Porci ded
Araújo. 14/09/2012,
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