Não
sou fã da atual configuração do STF. Após certas deliberações ali tomadas, a
Constituição deveria receber atendimento em Pronto Socorro para, se refazer dos
maus tratos. Coisa muito feia. Na origem, dessa minha zanga está a tal história
de tomar os princípios constitucionais em estado bruto e passá-los no esmeril,
dando-lhes formato que sirva para articular o texto com o que vai, na testa do
julgador. Tal conduta é mais do que recorrente. Já vi ministro invocar o
princípio da dignidade da pessoa humana até para opor-se à rinha de galos (concordo
com a proibição, mas não com a aplicação desse princípio ao caso). Impossível
negar, porém, que a Corte, neste momento, desfruta de amplo reconhecimento
nacional. A atividade que vem desenvolvendo é aparatosa, demorada, mas
consistente. Os fatos foram objeto de perícias. Há provas documentais,
circunstanciais e testemunhais. Poucos põem em dúvida as ocorrências descritas. E todos os que dizem que os crimes
não existiram são pagos para tanto, ou têm a perder, com o reconhecimento
deles, algo material ou imaterial, de cunho político, ideológico ou filosófico.
Seja
como for, o julgamento do Mensalão põe na mesa dos debates o sistema de
governo, o sistema eleitoral e a política como a praticamos no Brasil.
Repetidas vezes essas pautas têm sido objeto de considerações dos ministros do
STF e da mídia que cobre as sessões. Inúmeras vezes, também, do alto da minha
insignificância, tenho escrito que esse modelo é ficha-suja, concentra poder
político e financeiro em proporções incompatíveis com a democracia e, por isso
mesmo, atua como feromônio para atrair e excitar patifes de toda ordem. São
tantas e tamanhas as regalias disponíveis no almoxarifado do poder que só fica
ao seu desabrigo quem quer.
O
Mensalão é a monetização de outras práticas para composição de maiorias
parlamentares, que se instalaram no país desde que Collor foi apeado do poder. Hoje
vamos às urnas. Do meu ponto de vista, a política brasileira alcançou um nível
de degradação que só os eleitores podem retificar. O sistema e seus males
jamais serão corrigidos por via judicial. Menos ainda com as mudanças
dependendo de uma deliberação dos que dele se beneficiam. No entanto, o
cidadão, o ser humano em sua dimensão política, pode, por ato da própria
vontade, abandonar os velhos critérios de escolha e proporcionar aos partidos,
em sua negligência, sucessivas lições de discernimento, escolhendo não apenas
os bons, mas os melhores entre os bons.
O
que escrevi só será utópico se considerarmos que o Mensalão venceu. Com efeito,
assim como, em meio à indignação popular, há o Mensalão corrompendo os andares
de cima, há o Mensalinho fazendo o mesmo nos andares de baixo. Todo eleitor que
escolhe candidato por interesse pessoal, corporativo, comercial, não
republicano, está usando a democracia e as instituições para benefício próprio.
Sua atitude pouco difere daquela que despreza nos mensaleiros. Ao votar hoje,
tenha em conta de que as câmaras municipais são a estufa onde se produzem as
futuras elites políticas do país. O eleitor que pretende votar no mais
caricato, para "protestar"; no cara de determinada afiliação, sabe-se
lá por quê; na celebridade tal ou qual, apenas porque já ouviu falar dele ou
dela; e por aí afora, faça este favor à Nação: vote em branco ou nulo.
Lembrem-se os demais, por fim, da frase de George J. Nathan - "Os maus
políticos são eleitos pelos bons cidadãos que não votam". Portanto, às
urnas, cidadãos! Zero Hora, 07 de outubro de 2012.
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