Formas gerundia is devem ser usadas com cautela.
Não são, caldo de galinha do bom estilo. Por isso, chama a atenção, a invasão
dos gerúndios na comunicação nacional. Você liga para um, 0800 da vida, com o
intuito cívico de reclamar sobre algo. Quer providência e solução. Não
obstante, inevitavelmente, a resposta vem assim: star encaminhando sua,
solicitação. Vamos; estar entrando, em contato. Vamos; estar, agendando. E por aí "vão indo" os
encaminhamentos.
Poderíamos
dizer que é apenas um dos muitos erros acolhidos no nosso modo de falar. No
entanto, se prestarmos atenção aos motivos dessa construção verbal,
perceberemos que a linguagem frauda a mensagem. O gerúndio, empregado assim,
dissimula uma negação do que expressa. Cria uma ilusão, ao sugerir que a ação
ocorrerá no tempo presente, de modo continuado - encaminhando, entrando em
contato, agendando. Mas faz o inverso disso ao remeter tudo para as imprecisões
do futuro e da impessoalidade, através do "vamos estar". Quem diz
vamos estar, não está. Omite a informação sobre quando estará. E não atribui a
alguém o dever de estar. Para que a frase merecesse credibilidade seria
necessário usar o verbo no tempo futuro, estabelecer quando a ação seria
cumprida e indicar seu sujeito: encaminharei neste momento, entrarei em contato
hoje, o diretor agendará imediatamente, e assim por diante. Imagine leitor, o
que aconteceria se na empresa do tal 0800, um gerente, interpelado por seu
chefe sobre determinado problema, respondesse com um "vamos, estar
verificando, e estaremos encaminhando"...
Mas isto
aqui não é lição de Língua Portuguesa. Nem eu a saberia ministrar. Pretendo
mostrar que essa formulação marota, à qual nossos ouvidos "vão estar se
habituando" cada vez mais, ganha crescente espaço no discurso político.
Aliás, é a cara da nossa política perante as carências nacionais. Reflete a
falta de projetos, a fatuidade dos programas de governo e os solavancos
administrativos causados pelas manchetes. As decisões de governo, no Brasil,
"estão sendo" tomadas ao sabor das emoções.
Indagado
sobre problemas específicos de sua atividade, o gestor público nunca mostra
surpresa e raramente fornece resposta com começo meio e fim. A nova técnica
consiste em dizer que "temos estado estudando" e "estaremos
acompanhando, planejando, promovendo" ou coisas que o valham. Assim, há
mais de uma década, temos estado tentando sair do RS para o norte do país por
uma rodovia digna, e há mais de trinta anos, temos no estado, programando
soluções para o problema da BR-116 entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, por
exemplo. Eminentes pedagogos têm estado, estudando a queda dos nossos
indicadores educacionais, mas são sucessivas gerações de alunos que vêm sendo,
mesmo, prejudicadas.
Avizinha-se
um pleito municipal. Fique atento ao que dirão os candidatos. Firmou-se entre
nós um hábito segundo o qual o que é prometido para os primeiros dias seguintes
à posse, o pacote de bondades do discurso eleitoral, fica postergado para o
último mês de dezembro do quadriênio em disputa. E o que acaba posto em prática
é um pacote de maldades cautelosamente omitido durante a campanha. Os
candidatos deveriam detalhar e comprometer-se com seus programas de governo. Os
eleitores deveriam esmiuçá-los, ponderá-los, confrontá-los. E cobrá-los. No
Brasil. Ganham-se a eleição com um programa e governa-se com outro. A partir da
posse, as bondades vão para o gerúndio. E o presente do indicativo serve para
outras coisas. Autor: Percival Puggina: Zero Hora, 15 de julho de 2012.
Difusão: Geraldo
Porci de Araújo. 16/01/2012
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