O show a que me refiro é
esse, diariamente apresentado ao público pela trupe política que, há mais de
uma década, atua no grande palco, coxias e camarins de Brasília. A estas
alturas o povo já descobriu que o PT oposicionista, vestido de lírios, com
cheiro de madressilvas, era encenação. Apresentava-se como um partido formado por
almas imaculadas, concebidas sem pecado, incapazes da mais tênue má intenção.
Fiquemos, neste texto, com o PT do governo, o que subiu a rampa do Palácio do
Planalto em 1º de janeiro de 2003. Seus roteiristas e atores sabiam que o
período precedente serviu apenas para marketing da companhia. O povo só
descobriu isso depois.
Nunca
fui fã de FHC. Sempre me pareceu que ele, entre outros defeitos, se preocupava
demais com o que o PT dizia. Sempre achei que ele deveria fazer como Lula, que
não leva o PT a sério. No entanto, a despeito das duríssimas campanhas movidas
pela encenação lulopetista, os governos Itamar e Fernando Henrique implantaram
e deram continuidade a importantes políticas. A saber: a) o Plano Real, que a
trupe chamava de estelionato eleitoral; b) a Lei de Responsabilidade Fiscal,
que chamava de arrocho imposto pelo FMI; c) a abertura da economia brasileira,
que chamava de globalização neoliberal; d) o fim do protecionismo à indústria
nacional, que chamava de sucateamento do nosso parque produtivo; e) as
privatizações, que chamava de venda do nosso patrimônio; f) o cumprimento das
obrigações com os credores internacionais, que chamava de pagar a dívida com
sangue do povo; g) a geração de superávit fiscal, que chamava de guardar
dinheiro para dar ao FMI; h) o Prover, que chamava de dar dinheiro do povo para
banqueiro.
Aquelas
medidas, entre outras, forneceram a estabilidade, a credibilidade e o lastro
fiscal para que o petismo, assumindo o poder em tempo de bonança internacional,
apresentasse como obra sua o espetáculo do crescimento e distribuísse à platéia,
entre outros, os dois grandes pacotes de bondades que garantiram a eleição de
Dilma: bolsa família para os pobres e bolsa Louis Vuitton para os ricos. Esses
são os fatos, esse o script produzido com a caligrafia da História. No show, na
versão apresentada ao público, Lula e sua trupe fizeram a economia brasileira,
colher aplausos internacionais, decolando como o 14 bis para o vôo ao redor da
Torre Eiffel. Ah, a mágica dos palcos! Ah, o lufa-lufa das coxias! Poucos se
lembraram de perguntar como a economia passou a crescer sem que se alterasse,
em nada, a política econômica que o PT condenava em seus antecessores. Sem
mudar uma vírgula, sem ter que pensar nem que usar a caneta?
E
agora? Agora, o cenário internacional piorou. A poupança foi dilapidada e as
luzes vermelhas estão acessas nos painéis de todos os economistas. A sirene de
alarme soa no teatro. Além do desastre continuado em Saúde, Educação, Segurança
Pública e Infraestrutura, o Brasil já apresenta problemas seriíssimos em dez
áreas fundamentais para o bom funcionamento das atividades produtivas. Há um
problema cambial (com o dólar baixo é mais barato importar do que produzir, mas
se o dólar subir a inflação aumentará); as exportações diminuem e a indústria
passou a decrescer (-2,7% em 2012). Há um problema fiscal (o governo necessitou
de escabrosos artifícios contábeis para encenar um pequeno superávit nas contas
de 2012). Há um problema na taxa de investimento da economia (um pouco abaixo
dos 18%), muito inferior aos 24% sem os quais o 14-bis levanta vôo aqui, mas
tem que pousar logo ali. Há o problema do PIB, que também precisou passar no
camarim e receber maquilagem para chegar a ínfimo 1%. Há o problema da dívida
pública, que se aproxima dos dois trilhões de reais. Há o problema da inflação,
cuja expansão em 2012 foi confessada à platéia como sendo de 5,84% (um número
assustador, principalmente se considerarmos que o índice do primeiro mês deste
ano chegou a 0,88%. Há o problema da balança comercial, que apresentou, no ano
passado, o pior desempenho em 10 anos. Há o problema da infra-estruturar
insuficiente. E há, sobretudo, o despreparo dos recursos humanos para atuar nos
setores dinâmicos da economia, que os empresários têm considerado como o mais
alarmante problema que o país enfrentará nos próximos anos.
Foi
muito fácil aos governos petistas colher aplausos enquanto gastavam o
patrimônio acumulado. Mantiveram-se na ribalta como salvadores da pátria.
Fizeram passar por gênios, canastrões como Palocci e Mantega. O exemplo, de
todos os brasileiros, torcerem, para que o petismo encontre algum farelo de
competência em si mesmo e tire o país do fosso para onde o conduz há uma
década. Em outras palavras, que pare de fazer teatro e assuma um papel
respeitável na história. Este país, senhores, tem 200 milhões de habitantes que
não
Podem ser
tomados como platéia de embromadores. Autor: Percival Puggina (68) é
arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org,
articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia e Pombas e Gaviões. Difusão: Geraldo Porque de Araújo. 18/02/2013
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