O Partido dos Trabalhadores talvez se devesse interrogar sobre os motivos da rejeição social à sua proposta de estabelecer um "marco regulatório da mídia". Por que as pessoas não acreditam nas boas intenções do partido a esse respeito? Não me faltam dicas para tal reflexão.
Há décadas, seja nas fraternas deliberações do Foro de São Paulo, seja na mídia, o PT é parceiro de fé do regime cubano e, um pouco mais recentemente, do regime bolivariano. Ora, os dois jornais de Cuba são órgãos do Partido Comunista e nunca, em meio século, publicaram uma linha contra o governo. Idem, idem para a TV cubana que é estatal. Já o regime de Chávez desapropria meios de comunicação, fecha jornais e prende jornalistas. E o PT não cansa de elogiar os dois nem de dizer que são democráticos. Lula vai a Cuba, abraça o Fidel e chora. José Dirceu vai lá e funga. O partido sorteia excursões a Cuba. As lojinhas do partido vendem bandeirinhas cubanas e camisetas do Che Guevara. Lula afirma que na Venezuela "tem democracia até demais". E todos batem palmas.
Diferentemente dos demais partidos, que não têm maiores dificuldades de admitir os próprios erros e deficiências, o PT se considera acima das fragilidades da natureza humana e jamais reconhece suas faltas. Assim como Lula não tem pecado e comunga sem confessar, o PT não erra e não tolera ser objeto de juízo moral. São totalmente simétricas, aliás, a ferocidade com que o partido ataca a honra de seus adversários e aquela com que rejeita qualquer crítica que lhe seja feita. Daí o insuportável desconforto determinado por uma imprensa que eventualmente se põe a escrutinar o comportamento de seus líderes.
Entre as muitas justificativas do PT para o pretendido "marco regulatório da mídia" está o modo como, à juízo do partido, temas de direitos humanos deveriam ser tratados pelos meios de comunicação social. Ora, quem se deu ao trabalho de ler o calhamaço intitulado PNDH-3 percebeu que ali estão temas programáticos e ideológicos, dessa sigla partidária, que nem em sonhos podem ser considerados como conteúdos de consenso social. Com o marco regulatório o PT poderia enfiá-los goela abaixo da imprensa e da sociedade.
É parte da ideia de Franklin Martins que inspira o marco regulatório a formação de um conselho para esses assuntos. Não se requer muita argúcia para antever que o aparelhamento petista sobre tal conselho será igual ao que mantém sobre o que se costuma chamar, eufemisticamente, "sociedade civil organizada" (a expressão envolve organizações e instituições como sindicatos e suas centrais, federações, movimentos sociais, ONGs, comunidades eclesiais de base, pastorais sociais, entidades estudantis e uma miríade de "conselhos" que orientam importantes setores da vida nacional). Essa capacidade de operar a infiltração e exercer controle é um mérito do partido, admito, mas acaba com a credibilidade das instituições aparelhadas. Querem fazer o mesmo com a imprensa?
A experiência do governo petista de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul não enalteceu a capacidade de relacionamento do partido com a imprensa livre. Bem ao contrário. Foram quatro anos de pressão sobre os veículos para demissão de jornalistas e para domar o conteúdo das programações. E foram dezenas de processos judiciais contra formadores de opinião.
Poderia continuar listando motivos, mas acho que já os temos em volume e peso suficiente. De nada vale o documento final do 4º Congresso do Partido dos Trabalhadores afirmar seu compromisso com a liberdade de imprensa e sua rejeição a toda forma de censura. É uma declaração pouco convincente ante os elementos de análise alinhados acima e contraditória com o que transcreverei a seguir, extraído do próprio documento. Como se verá, o ambiente político nacional, as matérias da revista Veja, os constrangimentos entre os parceiros, o desconforto que as denúncias trouxeram ao ex-presidente Lula, levaram os congressistas do PT a confessar, numa frase, o que negavam no resto do texto e pretendiam manter oculto.
Ao mencionar o compromisso do partido com o "combate sem tréguas à corrupção" o PT se diz determinado a fazê-lo "sem esvaziar a política ou demonizar os partidos, sem transferir, acriticamente, para setores da mídia que se erigem em juízes da moralidade cívica, uma responsabilidade que é pública, a ser compartilhada por todos os cidadãos". Quais esses setores da mídia que serão obstados?
Não está admitida aí, com todas as letras, a repulsa do partido à liberdade de crítica? O PT pode emitir juízo moral sobre seus adversários. O PT leu a revista Veja nas tribunas dos parlamentos, nos megafones e a carregou em passeatas quando ela divulgou suas denúncias contra a governadora Yeda Crusius. Mas ai da revista quando elabora matérias que contrariam o projeto político do partido. Sim, o PT sonha com controlar a mídia.
Autor: Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões. Difusão: Geraldo Porci de Araújo. 15/9/2011.
Há décadas, seja nas fraternas deliberações do Foro de São Paulo, seja na mídia, o PT é parceiro de fé do regime cubano e, um pouco mais recentemente, do regime bolivariano. Ora, os dois jornais de Cuba são órgãos do Partido Comunista e nunca, em meio século, publicaram uma linha contra o governo. Idem, idem para a TV cubana que é estatal. Já o regime de Chávez desapropria meios de comunicação, fecha jornais e prende jornalistas. E o PT não cansa de elogiar os dois nem de dizer que são democráticos. Lula vai a Cuba, abraça o Fidel e chora. José Dirceu vai lá e funga. O partido sorteia excursões a Cuba. As lojinhas do partido vendem bandeirinhas cubanas e camisetas do Che Guevara. Lula afirma que na Venezuela "tem democracia até demais". E todos batem palmas.
Diferentemente dos demais partidos, que não têm maiores dificuldades de admitir os próprios erros e deficiências, o PT se considera acima das fragilidades da natureza humana e jamais reconhece suas faltas. Assim como Lula não tem pecado e comunga sem confessar, o PT não erra e não tolera ser objeto de juízo moral. São totalmente simétricas, aliás, a ferocidade com que o partido ataca a honra de seus adversários e aquela com que rejeita qualquer crítica que lhe seja feita. Daí o insuportável desconforto determinado por uma imprensa que eventualmente se põe a escrutinar o comportamento de seus líderes.
Entre as muitas justificativas do PT para o pretendido "marco regulatório da mídia" está o modo como, à juízo do partido, temas de direitos humanos deveriam ser tratados pelos meios de comunicação social. Ora, quem se deu ao trabalho de ler o calhamaço intitulado PNDH-3 percebeu que ali estão temas programáticos e ideológicos, dessa sigla partidária, que nem em sonhos podem ser considerados como conteúdos de consenso social. Com o marco regulatório o PT poderia enfiá-los goela abaixo da imprensa e da sociedade.
É parte da ideia de Franklin Martins que inspira o marco regulatório a formação de um conselho para esses assuntos. Não se requer muita argúcia para antever que o aparelhamento petista sobre tal conselho será igual ao que mantém sobre o que se costuma chamar, eufemisticamente, "sociedade civil organizada" (a expressão envolve organizações e instituições como sindicatos e suas centrais, federações, movimentos sociais, ONGs, comunidades eclesiais de base, pastorais sociais, entidades estudantis e uma miríade de "conselhos" que orientam importantes setores da vida nacional). Essa capacidade de operar a infiltração e exercer controle é um mérito do partido, admito, mas acaba com a credibilidade das instituições aparelhadas. Querem fazer o mesmo com a imprensa?
A experiência do governo petista de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul não enalteceu a capacidade de relacionamento do partido com a imprensa livre. Bem ao contrário. Foram quatro anos de pressão sobre os veículos para demissão de jornalistas e para domar o conteúdo das programações. E foram dezenas de processos judiciais contra formadores de opinião.
Poderia continuar listando motivos, mas acho que já os temos em volume e peso suficiente. De nada vale o documento final do 4º Congresso do Partido dos Trabalhadores afirmar seu compromisso com a liberdade de imprensa e sua rejeição a toda forma de censura. É uma declaração pouco convincente ante os elementos de análise alinhados acima e contraditória com o que transcreverei a seguir, extraído do próprio documento. Como se verá, o ambiente político nacional, as matérias da revista Veja, os constrangimentos entre os parceiros, o desconforto que as denúncias trouxeram ao ex-presidente Lula, levaram os congressistas do PT a confessar, numa frase, o que negavam no resto do texto e pretendiam manter oculto.
Ao mencionar o compromisso do partido com o "combate sem tréguas à corrupção" o PT se diz determinado a fazê-lo "sem esvaziar a política ou demonizar os partidos, sem transferir, acriticamente, para setores da mídia que se erigem em juízes da moralidade cívica, uma responsabilidade que é pública, a ser compartilhada por todos os cidadãos". Quais esses setores da mídia que serão obstados?
Não está admitida aí, com todas as letras, a repulsa do partido à liberdade de crítica? O PT pode emitir juízo moral sobre seus adversários. O PT leu a revista Veja nas tribunas dos parlamentos, nos megafones e a carregou em passeatas quando ela divulgou suas denúncias contra a governadora Yeda Crusius. Mas ai da revista quando elabora matérias que contrariam o projeto político do partido. Sim, o PT sonha com controlar a mídia.
Autor: Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões. Difusão: Geraldo Porci de Araújo. 15/9/2011.
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