Eu
sei, o conceito de cultura é mais abrangente que bolsa de mulher. Dentro dele
há de tudo e quase tudo que não há, também cabe. Então tratemos de nos
entender: 1º) por falta de outra palavra, "cultura" designa, aqui, o
bem colhido por quem busca prazer e elevação do espírito no conhecimento e na
Arte; e 2º) quando me refiro às vertentes do conhecimento estou falando, principalmente,
de Filosofia, Política, Direito, História e Religião.
As
vertentes da Arte são muitas e proporcionam lazer e prazer. Embora os
indivíduos recolham da cultura expressivos benefícios pessoais, mesmo quando
individualmente construída ela é socialmente proveitosa. Tanto os que a
produzem quanto os que a buscam são essenciais ao progresso das civilizações.
Agora, leitor, dê uma olhada em seu entorno. Será impossível não perceber o
quanto isso que escrevi vai, na
contramão do que se vê disponibilizado como se fosse bem cultural ao consumo da
população. Felizmente, suponho que por uma questão de pudor, para que não se
confunda uma coisa com a outra, música virou som. E, com exceções, sumiram os
dois. Ficou o barulho. Pode a música, a boa música, sumir? Pode.
A
boa música pode. E os livros? Sumirão
também? Intuo que vem aí uma geração para a qual livros – em papel ou virtuais
- serão objetos de um tempo remoto, coisas da casa do vovô e da vovó. Ainda são
vendidos, é verdade, mas não se pode dizer que por muito tempo, nem que parte
significativa das vendas atuais expresse muito gosto pela Literatura (exceto se
ampliarmos o conceito para abrigar obras de autoajuda, vampirismo, histórias
sobre animais domésticos e assemelhados) Filosofia? Dá uma canseira danada. História?
Consulte o governo. Ou ele escolhe os livros ou nomeia uma comissão para
contar, Tim-Tim por TIM - TIM, toda a verdade. De Política não se quer ouvir
falar. Na comunicação de massa pela tevê, o que há 20 anos era visto como
baixaria e causa de escândalo hoje se afigura como clássico, recatado e
requintado. Resumindo, o padrão cultural do brasileiro despenca num
escorregador recoberto pela mais sebosa vulgaridade. Não vou me aprofundar
nisso para não ficar deprimido.
Certas
correntes antropológicas promovem verdadeiro terrapleno cultural. Não existe
cultura melhor nem pior, superior ou inferior. Tudo é cultura e tudo é
apreciável como símbolo de ideias e comportamentos coletivos. No entanto, a
civilização continuará produzindo seres humanos que, em ambiente adequado,
valorizarão o bem e o belo, o saber e a verdade. Com a sociedade se
massificando cada vez mais e mantidas as hegemonias que se instalam no mundo da
Educação e da Política, a elite cultural brasileira definhará em importância.
Os espaços de decisão serão tomados por aqueles que estabelecerem mais
proveitosa interlocução com a massa crescentemente ignara, presa fácil na malha
da mediocridade a seu alcance, da mentira bem contada e da promessa sedutora.
Precisaríamos
muito de um renascimento cultural. Mas como produzi-lo? Onde quer que olhe, não
vejo sinais disso. Quase tudo que leio expressa grosseiro menosprezo pela
virtude, pelas coisas do espírito e pela elevação da mente humana aos níveis de
competência que lhe foram disponibilizados pelo Criador. Sei, sei, só escrevo
estas coisas horrorosas, escandalosas, porque sou um conservador, palavra que a
novilíngua marxista conseguiu transformar em xingamento. É categoria que, no
Brasil, se desdenha. E, neste caso, diferentemente do conhecido aforismo, quem
desdenha não quer comparar. Eu escrevi comparar. Autor: Percival Puggina:
Difusão: Zero Hora, 17/06/2012. E
Geraldo PORCI DE Araújo. 20/06/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário