O
número de vítimas causadas por todas as discriminações odiosas, somadas e
multiplicadas por mil, não se aproxima da carnificina causada pela fotofobia.
Estima-se que ela produza, no mundo todo, cerca de 50 milhões de execuções/ano
(algo como oito holocaustos a cada 365 dias, ou 2500 jamantas carregadas de
fetos). Trata-se, portanto, de um ma a exigir severas medidas restritivas à sua
propagação. A fotofobia vai direto da tolerância ao ato. Da teoria à prática.
Ela discrimina e mata implacavelmente aqueles contra os quais se volta. Como
não tem justificativa moral, insinua-se mediante raciocínios sofistas e
capciosos. Outro dia, um fetofóbico, indignado, acusava os defensores da vida
de se fundarem em princípios e convicções. Tinha razão. A promoção do aborto só
se sustenta no contexto oposto, no contexto dos palpites que caracterizam o
relativismo moral e o hedonismo mais rasteiro. Se princípios e valores não servem
para discutir o respeito á vida humana, tampouco servem á Política ao Direito e
à Justiça, bem como à Saúde e à Educação. E assim se esclarece muita coisa.
Todos
conhecem a frase do Goebbels sobre a mentira incansavelmente repetida. Mas o
que ele ensinou vale, também, para a insistente negação da evidência e para a
repetição da tolice. "O Brasil é um país laico!", proclamam os fetofóbico
como se tivessem atingido a epifania do saber. E daí? Significará isso que
qualquer convicção moral, qualquer constatação científica, qualquer reflexão
filosófica que coincida com uma afirmação religiosa deva ser banida do catálogo
das ideias e expurgada de todo debate civil? Mas é inútil contestar os piores
cegos e surdos, que não querem ver, nem ler, nem ouvir. Amanhã, os fetofóbico
estarão repetindo, goebbelianamente: "O Brasil é um país laico. Obas que
ilegalizemos a chacina!".
Ninguém
precisa ter lido Julien Freund para perceber, em si mesmo, que as dimensões do
ser humano - a política, a religiosa, a cultural, a econômica, a ética e a
artística - convivem, necessariamente, umas com as outras. Dar cartão vermelho
a qualquer delas, abortando-a do espaço público, como pretendem fazer com a
dimensão religiosa, contraria a natureza humana. Por isso, é aberração só
ensaiada nos totalitarismos, como a experiência dos povos demonstra derramando
exemplos sobre a mesa da História. Houvesse busca sincera da verdade, o que aí
está dito bastaria. Mas a feto fobia não se segura. Ela voltará aos mesmos
"argumentos", dos quais se deduz que: a) a separação entre Igreja e
Estado deve aprisionar em um gueto a cidadania das pessoas de fé; b) quaisquer
valores em que se perceba o perfume de alguma religião devem ser barrados na
porta dos parlamentos e tribunais por vício de origem; c) o feto é coisa inútil
- arrancado aos pedaços nada sente; e d) só pode opinar sobre temas de
interesse público quem não tiver convicção alguma.
Tanta
tolice precisa substituir argumentos por adjetivos. Então,
ser contra o aborto é fundamentalismo e defender a vida é obscurantismo.
Tão lógico quanto isso. Quero louvar, a propósito, a firmeza dos congressistas
evangélicos (onde andam os católicos e a CNBB?), acusados pelo feto, fóbicos de pretenderem fazer refém ao governo.
É como se o governo pudesse ficar - e como fica! - refém de qualquer bando, de
quaisquer negocistas, de quaisquer corporações ou grupos de interesse. Mas será
demasiadamente subjugado, o governo, se aceitar pressões em defesa da vida. Zero
Hora, 26/02/2012. Autor: Percival Puggina.
Difusão Geraldo Porci de
Araújo. 28/12/2012.
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