Eu pertenço a uma geração que deixou saudade. Que
viveu a vida com respeito, com charme, com romantismo. E com intensidade. Que
navegou em mar de almirante no que hoje chamam de anos dourados. E olha
que o mar nem era tão de almirante assim. Tivemos lá nossas tormentas, Mas
soubemos enfrentá-las e vencê-las. Sempre com o peito aberto e a cabeça erguida
e com dignidade.
Soubemos degustar o suco da vida, sem destroçar o fruto.
Usufruir a natureza, sem estuprá-la. É, meu amigo, eu pertenço a uma geração
que deixou e sente saudade. Uma geração que não teve medo de ser feliz. E nem
vergonha. Uma geração que via Copacabana como a ‘‘Princesinha do Mar.’’
Que conhecia São Paulo como a elegante e charmosa
terra da garoa é para nós, o Brasil era o grande país do futuro. Hoje, a
princesinha casou,teve filhos. E mudou sem deixar endereço. Dizem até que, hoje, já nem vai mais à praia.
São Paulo cresceu, engordou. Perdeu o
charme e a garoa. Quem viu nem
reconhece.
Já o Brasil, ah o Brasil! Continua sendo o país do
futuro. Mas do jeito que a coisa anda, só não sabemos que futuro será esse. Eu pertenço a uma geração que viu
o biquíni nascer. E não viu nada além.
Agora, mulher de biquíni é como mina abandonada. Quando se chega, já não resta
nada pra explorar.
Eu pertenço a uma geração que viu Mitchun, Waynne e
Cooper transformarem em romantismo os horrores de uma guerra. Hoje, se você
descuida a guerra sai da TV e cai em sua sala.
Suja, violenta, cruel. E por falar em TV, também foi
na minha geração que ela nasceu. Primária, incipiente, amadorística.
Mas limpa, emocionante, querendo vencer. E sem
apelações. Tanto que o primeiro beijo na TV até hoje é cantado em prosa e
verso. Agora beijo é no horário infantil.
Sexo fica prá sessão vespertina. E o explícito nas novelas da noite. E pensar
que a gente se emocionava muito mais com Chaplin, que sequer falava. Ah, eu pertenço a uma
geração que namorava nas matinês dos
domingos, comendo pipocas, chupando dropes. Que esperava o filme começar prá
buscar a emoção de um beijo roubado.
Hoje a chupação começa bem antes. E o escracho dos
motéis acabou com o doce mistério do escurinho do cinema. Só Rita Lee, lembra disso. É seu moço, eu
pertenço a uma geração que encarava a virgindade como virtude. Não como
vergonha. Que usava camisinha como preservativo, não como meio de
sobrevivência.
Eu pertenço a uma geração que estudava prá ficar
culta e vencer na vida. Não prá ficar esperta
e ganhar a vida. Uma geração que desprezava agiotas. E olha que cobravam só 5%
ao mês. Agora tem banqueiro que cobra 15% e continua em liberdade. Até sai em coluna social.
Sabe, meu amigo, eu pertenço a uma geração que tinha
respeito pela autoridade. Não medo. Que manifestava amor pela Pátria. Não deboche. Uma geração que valorizava a
amizade.
Não o interesse. Que se fascinou com os novos
aviões. Sem deixar de ter carinho pelos velhos bondes. Uma geração que amava,
não tinha, tesão. Respeitava, mesmo quando havia cobiça. Que fazia coisas
bobas, como abrir a porta para uma mulher. Puxar a cadeira prá ela sentar.
Que oferecia seu lugar no ônibus para uma senhora.
Mesmo que nem fosse tão senhora. É meu caro, da minha geração, vai deixar
saudade. Ela viveu anos dourados de verdade. E intensamente. Com pique, com atenção,
com alegria. E dizer que a gente era feliz... E nem Música
sabia: Imagine - John Lennon.
Autor: Desconhecido. Diofusão: Geraldo Porci de Araújo. 23/12/2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário