segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A GERAÇÃO DOS ANOS DOURADOS



Eu pertenço a uma geração que deixou saudade. Que viveu a vida com respeito, com charme, com romantismo. E com intensidade. Que navegou  em mar de almirante  no que hoje chamam de anos dourados. E olha que o mar nem era tão de almirante assim. Tivemos lá nossas tormentas, Mas soubemos enfrentá-las e vencê-las. Sempre com o peito aberto e a cabeça erguida e com dignidade.
Soubemos degustar o suco da vida, sem destroçar o fruto. Usufruir a natureza, sem estuprá-la. É, meu amigo, eu pertenço a uma geração que deixou e sente saudade. Uma geração que não teve medo de ser feliz. E nem vergonha. Uma geração que via Copacabana como a ‘‘Princesinha do Mar.’’
Que conhecia São Paulo como a elegante e charmosa terra da garoa é para nós, o Brasil era o grande país do futuro. Hoje, a princesinha casou,teve filhos. E mudou sem deixar endereço.  Dizem até que, hoje, já nem vai mais à praia. São Paulo cresceu, engordou.  Perdeu o charme e a garoa.  Quem viu nem reconhece.
Já o Brasil, ah o Brasil! Continua sendo o país do futuro. Mas do jeito que a coisa anda, só não sabemos que futuro  será esse. Eu pertenço a uma geração que viu o biquíni nascer.  E não viu nada além. Agora, mulher de biquíni é como mina abandonada. Quando se chega, já não resta nada pra explorar.
Eu pertenço a uma geração que viu Mitchun, Waynne e Cooper transformarem em romantismo os horrores de uma guerra. Hoje, se você descuida a guerra sai da TV e cai em sua sala.
Suja, violenta, cruel. E por falar em TV, também foi na minha geração que ela nasceu. Primária, incipiente, amadorística.
Mas limpa, emocionante, querendo vencer. E sem apelações. Tanto que o primeiro beijo na TV até hoje é cantado em prosa e verso. Agora beijo é no horário infantil.
Sexo fica prá sessão vespertina.  E o explícito nas novelas da noite. E pensar que a gente se emocionava muito mais com Chaplin,  que sequer falava. Ah, eu pertenço a uma geração que namorava nas  matinês dos domingos, comendo pipocas, chupando dropes. Que esperava o filme começar prá buscar a emoção de um beijo roubado.
Hoje a chupação começa bem antes. E o escracho dos motéis acabou com o doce mistério do escurinho do cinema.  Só Rita Lee, lembra disso. É seu moço, eu pertenço a uma geração que encarava a virgindade como virtude. Não como vergonha. Que usava camisinha como preservativo, não como meio de sobrevivência.
Eu pertenço a uma geração que estudava prá ficar culta e vencer na vida.  Não prá ficar esperta e ganhar a vida. Uma geração que desprezava agiotas. E olha que cobravam só 5% ao mês. Agora tem banqueiro que cobra 15% e continua em  liberdade. Até sai em coluna social.
Sabe, meu amigo, eu pertenço a uma geração que tinha respeito pela autoridade. Não medo. Que manifestava amor pela Pátria.  Não deboche. Uma geração que valorizava a amizade.
Não o interesse. Que se fascinou com os novos aviões. Sem deixar de ter carinho pelos velhos bondes. Uma geração que amava, não tinha, tesão. Respeitava, mesmo quando havia cobiça. Que fazia coisas bobas, como abrir a porta para uma mulher. Puxar a cadeira prá ela sentar.
Que oferecia seu lugar no ônibus para uma senhora. Mesmo que nem fosse tão senhora. É meu caro, da minha geração, vai deixar saudade. Ela viveu anos dourados de verdade. E intensamente. Com pique, com atenção, com alegria. E dizer que a gente era feliz... E nem  Música sabia: Imagine - John Lennon. Autor: Desconhecido. Diofusão: Geraldo Porci de Araújo. 23/12/2011. 

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