Quando iniciaram os problemas nos aeroportos brasileiros ficou evidente que havia algo muito errado em curso e nada tinha a ver com as alegadas razões de tráfego aéreo apontadas pelas autoridades. Primeiro porque tudo começou com o acidente do avião da Gol. A partir da queda da aeronave o que até então era eventual se tornou constante. Quando não é a pista de Congonhas é algum equipamento, ou um sistema de rádio, ou o radar do raio que os parta, ou tudo isso se combinando para afetar o tráfego aéreo nacional numa cadência que nem mesmo todos os demônios do inferno juntos poderiam articular com tão perversa precisão. De repente, começaram as reclamações dos operadores de vôo: ganhavam pouco, eram em número insuficiente, trabalhavam inaceitáveis 156 horas mensais, dois colegas eram apontados como suspeitos de responsabilidade pelo acidente da Gol, não desejavam continuar sob comando militar.
Foi quando tudo se esclareceu. Para variar, a clássica incompetência gerencial se cruzava com problemas corporativos. Os controladores queriam se tornar funcionários federais com os privilégios inerentes a uma categoria com poder de levar o transporte aéreo nacional para o caos, ganhar mais, livrar a cara dos colegas e trabalhar menos que todo mundo. Quando isso ficou evidente, passei a apontar os riscos inerentes à transferência dos controladores de vôo para a esfera civil. As conseqüências eram perfeitamente previsíveis. Criariam um sindicato, promoveriam greves, pleiteariam aposentadoria especial e redução de jornada. Haveria elevação das tarifas aeroportuárias e o número de operadores teria que ser multiplicado por três ou quatro para atender às licenças de saúde e as faltas ao trabalho justificadas ou não. Em pouco tempo, a categoria estaria filiada à CUT e passaríamos a conviver com passeatas nos aeroportos, greves, distribuição de panfletos aos passageiros e cartazes de cunho político nas paredes dos aeroportos.
“Não à desmilitarização do setor!”, passei a sustentar. Sob comando militar haverá disciplina e respeito à hierarquia. Quanta ingenuidade, a minha! Fico sabendo, agora, que já existe uma tal associação dos controladores de vôo, que eles entraram em greve, que pararam o tráfego aéreo por um dia inteiro e que um de seus diretores está em licença de saúde concedendo entrevistas e disparando ameaças. A pior de todas foi a de que, se transferido para a Base Aérea de Santa Maria, pedirá baixa da Aeronáutica. Puxa vida! Como o país sobreviverá a tal perda?Fui ingênuo porque supus que a Aeronáutica, mesmo sob os comandos escolhidos por Lula, ainda fosse a nossa Aeronáutica, com a altivez e os valores que aprendemos a admirar. Qual o quê! Nada escapa à degradação em que esse governo se movimenta. Não é por mero acaso que escrevo este artigo no Dia dos Bobos. Autor: Percival Puggina. Dufusão: Geraldo Porci de Araújo, 01/4/07.
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