É
possível, com algum esforço, criar uma palavra e atribuir-lhe um significado
universalmente conhecido. Mas é quase impossível mudar o significado de uma
palavra suprimindo ou alterando seu conteúdo simbólico consolidado. Fará muita
bobagem na política quem não souber isso ou, ao menos, não o intuir.
Exemplifiquemos. Você dificilmente
participará de uma missa, ouvirá um sermão ou lerá um documento da CNBB sem que
se depare com a palavra, "excluído". Ela estará ali, para a mensagem,
assim como a farinha de trigo está para a hóstia. Procure essa palavra nos
quatro evangelhos e veja quantas vezes é mencionada. Já fez isso? Pois é.
Nenhuma. Quando alguém, astuciosamente, substituiu a palavra "pobre"
(esta sim, 25 vezes referida nos evangelhos) por "excluído",
infiltrou um conteúdo ideológico na mensagem cristã. E quem não estiver
prevenido receberá doses frequentes de veneno marxista em substituição ao verdadeiro
ensinamento de Jesus, um ensinamento de amor ao próximo, de caridade, de zelo
fraterno e de rejeição à idolatria da riqueza. Não há nos evangelhos qualquer
esboço de luta de classes. Não há uma gota sequer de ódio aos ricos, mas
severas advertências a quem apenas se ocupa com acumular bens onde eles são
consumidos "pela ferrugem e pelas traças". Já a noção de exclusão
implica a simétrica noção de inclusão e de ambas se deduz que o excluído é
sujeito passivo da ação de exclusão que sobre ele exerce o sujeito ativo
incluído. Vai uma bandeirinha vermelha aí?
O
ensino cristão sobre os bens materiais não significa, em absoluto, nem poderia
significar, uma proposta de organização da economia sem direito de propriedade,
sem iniciativa privada, sem produção; sem negócios, sem remuneração e sem
lucro. Num mundo com bilhões de habitantes essa seria a receita da miséria e da
inanição.
Vamos
em frente. Atente leitor, para a palavra capitalismo. Volta e meia ela é usada
para definir um sistema vantajoso, oposto ou em contraposição ao socialismo
como sistema econômico. Ora, a carga simbólica da palavra capitalismo é tão
negativa, malgrado se refira a um modelo comprovadamente superior ao
socialismo, que até parece ter sido concebida por seus adversários, não é
mesmo? E, de fato, foi! Esse vocábulo entrou nos dicionários na segunda metade
do século 19, levada pelos textos de socialistas e anarquistas, a partir de
Marx, Proudhon e outros. Portanto, usar como bandeira, proposta ideológica ou
plataforma de organização da ordem econômica uma palavra com essa carga
negativa, cunhada pelos próprios adversários da tese que expressa, é uma
burrice com fome de pasto. Em tudo semelhante a de quem usa ingenuamente a
palavra "excluído" em seus atos penitenciais, sem perceber o erro que
está cometendo. Reze pelos pobres e aja em favor deles, meu irmão. Mas não caia
nas redes da Teologia da Libertação!
Veja
o que escreveu o Papa João Paulo II, no nº 42 de sua extraordinária encíclica,
Centésimo Ano (1991): "Voltando agora à questão inicial,
pode-se porventura dizer que, após a falência do comunismo, o sistema social
vencedor é o capitalismo e que para ele se devem encaminhar os esforços dos
Países que procuram reconstruir as suas economias e a sua sociedade? É, porventura,
este o modelo que se deve propor aos Países do Terceiro Mundo, que procuram a
estrada do verdadeiro progresso econômico e civil? A resposta apresenta-se
obviamente complexa. Se por "capitalismo" se indica um sistema
econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado,
da propriedade privada e da conseqüente responsabilidade pelos meios de
produção, da livre criatividade humana no setor da economia a resposta é
certamente, positiva, embora, talvez fosse; mais apropriado, falar de
"economia de empresa", ou de "economia de mercado", ou
simplesmente de "economia livre". Ele veio de um país comunista e
sabia das coisas.
Autor:
Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e
de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a Difusão: Geraldo
Porci de Araújo. 30/01/2012.
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