quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

BELEM E JERUSALEM

BELEM E JERUSALEM
“Como é possível que Papai Noel não exista?” As dúvidas sobre o bom velhinho se instalaram em minha mente a partir de um fiapo de conversa ouvida certa ocasião em que meus pais e tios, lá na nossa Santana do Livramento, acertavam detalhes para o Natal que se aproximava. “Se não existe estou mal arrumado”, fiquei pensando com meus suspensórios (no final dos anos 40 crianças usavam suspensórios...) “porque esses aí é que não vão me dar todos os brinquedos encomendados”.
Para uma criança, poucas coisas são tão reais e visíveis quanto o Papai Noel. Por isso, me pareceu fantástica a possibilidade sinalizada naquela conversa dos adultos. Preferi atribuí-la a alguma desinformação deles. “Adulto acredita em cada coisa... É capaz até de acreditar que Papai Noel não existe”. E ponto final.

Dezembro é um mês extraordinário. De janeiro a novembro as crianças pintam e bordam. No último mês do ano todas têm um comportamento exemplar. A mais leve insinuação de que Papai Noel vai ficar sabendo é capaz de converter um capetinha aos padrões de conduta dele exigidos. Aliás, se Papai Noel subsistisse no imaginário infantil por mais alguns anos, os índices de repetência nas séries iniciais do primeiro grau seriam bem inferiores. E se os adultos reconhecessem em Deus metade dos poderes e do senso de justiça que as crianças atribuem ao Papai Noel o mundo seria muito melhor.
As crianças crêem no bom velhinho e quando lembradas de sua crença vivem como se ele de fato existisse. Com Deus é ao contrário. Ele existe, mas as pessoas, mesmo as que nele creem, tendem a viver como se não existisse. E, com isso, nos afastamos da fonte da felicidade e do bem. O Natal não é apenas uma bela história. Ele é, principalmente, um drama real, convivido nas duas cidades, a de Deus e a dos homens: Deus se faz homem para estabelecer uma “nova e eterna Aliança” com a humanidade que ama.
Pensando nisso, ocorreu-me fazer dois registros aos adultos que me leem neste tempo de Natal. De um lado, é preciso, sim, ser como as crianças para entrar no Reino dos Céus. Alguém duvida? De outro, é inevitável a perda das fantasias infantis. Mas se de fato valorizarmos o Natal, se percebermos que o Menino Jesus de Belém é o mesmo Cristo de Jerusalém, estaremos deixando o Reino do Faz de Conta para nos tornarmos construtores do Reino dos Céus. Cristo, aliás, anunciou que ele já está entre nós. Na real, só por isso faz sentido dizer “Feliz Natal!”. Autor: * Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site http://www.puggina.org/, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia

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