quarta-feira, 24 de junho de 2009

AH! SE EU CANTASSE A SAUDADE!

AH! SE EU CANTASSE A SAUDADE!
“Eu quero escrever um poema sem a palavra saudade, sem recordar bem algum. Quero quebrar o sistema, o hábito tão comum de chorar a mocidade, o tempo que já passou e a própria vida quebrou. (Ah! Se eu cantasse a saudade!)”. Eloah Oliveira Puggina, em Última Seara.
Como escrevia bem a minha mãe, não é mesmo? Suas trovas, poemas e poesias têm admirável leveza e originalidade de forma e conteúdo. Era um talento que feneceu e faleceu aos 84 anos sem ter tido tempo de encontrar o reconhecimento e a glória porque sempre considerou que seu marido e seus sete filhos eram sua missão. Ambicionava apenas o bem de seus filhos e essa foi toda a glória que almejou para si. Perdoem-me os leitores o tom inusitadamente intimista desta crônica, mas não haveria, na coincidência deste domingo com o Dia das Mães, como romper a estreita ligação nervosa que une a mente ao coração e este aos dedos que buscam as palavras no teclado do micro.
Quando se visitam os grandes museus de artes plásticas, com interesse nas obras e não nos autores (o que faz enorme diferença), salta aos olhos que quando o tema é o amor, os artistas são compelidos a usar a imagem de Deus ou a imagem da mulher. E não é coincidência que ambos sejam meios para esse mesmo fim. Não, não é coincidência. Deus é amor e a mulher, à sua semelhança, também. Nada, caro leitor, cara leitora, é tão parecido com o amor de Deus quanto o amor da mãe pelo filho, seja ele o cada vez mais freqüente filho único de nossos tempos, seja ele um dos vinte e tantos de antigamente, ou um dos sete de minha mãezinha. Essa semelhança transparece, inclusive, na infinita capacidade de evidenciar o amor nas circunstâncias em que ele é mais exigido, ou seja, perante a necessidade do perdão. Raramente, dificilmente, um homem perdoa antes de o perdão ser pedido. No entanto, Deus e as mães fazem exatamente isso, sempre.
Dona Eloah era assim porque as mães costumam ser assim. Por isso, neste Dia das Mães, quando a saudade me constrange o coração, quero homenageá-las com estes versos que minha mãe, grávida, escreveu há 61 anos: “Meu corpo é um berço, é cálido ninho... quando caminho, a cada passo embalo e acalento meu bebezinho. - E se adormeço Meu coração arrulha em compasso bem terno e lento uma canção.” ZERO HORA, 10 de maio de 2009. Percival Puggina Percival Puggina.

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