terça-feira, 23 de junho de 2009

UM ESTRANHO NUMA ESQUINA DE JERUSALÉM

UM ESTRANHO NUMA ESQUINA DE JERUSALÉM
“Veio o dia dos Ázimos, quando devia ser imolada a Páscoa. Jesus então enviou Pedro e João dizendo: ‘Ide preparar-nos a Páscoa para comermos’. Perguntaram-lhe: ‘Onde queres que a preparemos?’ Respondeu-lhes: ‘Logo que entrardes na cidade, encontrareis um homem levando uma bilha d’água. Segui-o até a casa em que ele entrar’” (Lucas 22, 7-10).
Sempre que leio essa passagem do Evangelho de Lucas chama-me a atenção a maneira um tanto misteriosa como Jesus indicou a Pedro e João o local onde queria que a ceia fosse celebrada. Creio que aquele homem, com a água que levava, representa algo. Tem que representar. O sujeito não está ali, parado numa esquina de Jerusalém, como personagem de um thriller sobre o serviço secreto israelense, o Mossad, tipo assim: - “Acompanhem o sujeito com um cachecol vermelho e com uma edição do Haaretz embaixo do braço”. Penso que, diferentemente, o episódio entra nos Evangelhos como metáfora, com uma pedagogia, para informar que cabe a todos os batizados mostrar o caminho do local da ceia; que nos incumbe palmilhar, sobre as pedras do cotidiano, o percurso que leva à casa do Pai. E para dizer-nos que devemos fazer com que outros nos sigam, de modo que se cumpra tudo que foi instituído. Quando eu me dei conta disso, o sujeito deixou de ser um estranho numa esquina de Jerusalém.
De fato, anônimo perante a posteridade, sem rosto, porque seguido pelos que vinham atrás de si, o homem com a bilha d’água, de certo modo e do modo certo, serviu a Cristo como a Igreja O deve servir, sem perguntar qual seria seu lugar na mesa e sem posar para a fotografia. O que aconteceu no local para onde ele conduziu os apóstolos, transformado no mais importante templo material da história humana, seria mais do que suficiente para produzir alguma expressão de vaidade. Mas não. Não é assim que acontecem as coisas na história da Salvação.
Também os sacerdotes comparecem ao altar da Santa Ceia como o homem da bilha d’água. Orientadores do povo de Deus, eles abrem as portas da grande sala e a confiam ao Mestre para que opere, ali, o imenso dom da Eucaristia, “como aquele que serve”. Quando querem ser os astros da celebração agem como simples burros carregando água.
No domingo de Páscoa, no dia do Pessach para os judeus, os cristãos celebram a Ressurreição. E mais uma vez se mostra, inteiro, o zelo dos evangelistas pela verdade dos fatos que narram. A Ressurreição de Jesus é o fato mais extraordinário da História. É essencial ao cristianismo. A Páscoa da Ressurreição é a data magna dos cristãos. “Se Cristo não ressuscitou, vã seria a nossa fé”, diria Paulo de Tarso, alguns anos mais tarde. No entanto, como esse fato não foi testemunhado por ninguém, os evangelistas não lhe dedicam uma única palavra. Limitam-se a descrever o túmulo vazio e as posteriores aparições de Jesus.
“Sigam esse homem” é uma espécie de reiterado mandamento, em cuja essência o próprio Jesus é aquele que deve ser seguido. Sigam-no e Feliz Páscoa! Percival Puggina 10/04/2009

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