quarta-feira, 24 de junho de 2009

ALI ONDE O FUTURO COMEÇA

ALI ONDE O FUTURO COMEÇA
Lendo o interessante livro de Gustavo Grisa “RS sem medo do futuro”, percebi que muitas das reflexões nele contidas são úteis para qualquer sociedade que pretenda ser justa, solidária, eficiente e moderna. O Rio Grande do Sul, objeto da obra, talvez tenha maiores urgências porque, sob diversos aspectos, perdeu posições no contexto nacional após décadas de crescentes déficits e baixíssima capacidade de investimento público. Uma realidade que só agora se reverte.
O receituário proposto pelo autor inclui algo que os gaúchos sempre alinhamos entre nossas mais atraentes disponibilidades: nossos recursos humanos. Com efeito, são as pessoas que fecundam todos os demais meios de produção. Quanto mais preparadas, animadas, criativas e competentes, ou seja, quanto melhores forem as pessoas, mais apta estará a sociedade para promover seu desenvolvimento econômico e social. E foi aí que percebi a luz vermelha sobre o X da questão. Está em curso no Rio Grande do Sul, já há algum tempo, um processo doloso de desqualificação desse seu mais valioso potencial. O mau desempenho dos alunos nos exames do IDEB e do ENEM e a consequente perda de posições no ranking nacional da Educação fornecem a prova provada do que afirmo. A educação brasileira está entre as piores do mundo e é nesse meio que afundam os indicadores educacionais do Rio Grande do Sul! Sob tais condições, fica difícil olhar para o futuro sem medo.
O que determina tão alarmante realidade? Não hesito em afirmar que a causa principal está no contexto em que se desenvolve o ensino público, domado pelo conservadorismo dos métodos e pelo corporativismo funcional. O corporativismo só pensa em si e o conservadorismo não aceita mudanças. É o velho paradoxo: está tudo errado, mas não mexe.
O mais antigo exemplo que me ocorre já conta vinte anos. É de quando Bernardo de Souza, como secretário de Educação do governo Pedro Simon, pretendeu fazer com que cada escola tivesse o seu quadro de pessoal, abrangendo a discriminação dos recursos humanos e as competências funcionais requeridas para as atividades. Foi um escarcéu e a palavra QPE (quadro de pessoal por escola), coisa lógica e indispensável a qualquer gestão responsável de pessoal, virou pauta de xingatório, espécie de palavrão no vocabulário corporativo.
E vem sendo assim com tudo. O tema da educação foi capturado pelo sindicato da categoria, que foi cooptada pela esquerda mais retrógrada e a maioria do professorado gaúcho se transformou em militante do atraso, em freio ABS do progresso, insensível à crescente desqualificação dos alunos. Para informação de quem não sabe: malgrado os péssimos resultados de suas sucessivas atuações, mesmo na estreita pauta sindical, é cada vez maior o controle da esquerda sobre o professorado rio-grandense. Na última eleição para o Cpers/Sindicato, duas das três chapas foram de esquerda. E venceu a esquerda da esquerda. Se alguém tem dúvida sobre o que pensam nossos professores sobre a vida, sobre o que lhes é ensinado nas faculdades a respeito de suas missões, e sobre o seu desejo de serem “intelectuais orgânicos” a serviço da captura de corações e mentes nas salas de aula, aí está uma boa demonstração do tamanho da encrenca com que se depara o futuro do Rio Grande do Sul.
Interrogados, nove em dez professores estaduais dirão que seus principais objetivos são ganhar mais e preparar os alunos para a “cidadania”. E, pelo que se vê na vida vivida, dentro e fora das escolas, não estão conseguido coisa alguma. Nem transmitir conhecimento, nem ganhar mais, nem formar cidadania. Mas enquanto o tempo passa, perde-se futuro. E perde-se o futuro bem ali onde ele começa, nas salas de aula.
Lamentavelmente, nossas elites só se articulam, só vão ao Parlamento, só colocam crachá no peito contra a criação de tributos. É pena, porque, cá entre nós, se a disposição para mobilização, para percorrer gabinetes parlamentares, para pressionar, se limitar a tanto, também isso é corporativismo, sabe? www.votors.com.br. Percival Puggina 07/05/2009

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