sexta-feira, 29 de maio de 2009

ALIENÍGENAS DA DEMOCRACIA

ALIENÍGENAS DA DEMOCRACIA
Meu assunto da semana seria a CPMF. No entanto, a invasão do plenário do parlamento rio-grandense por um grupo de manifestantes ligados ao Cpers, à CUT e a partidos de esquerda derrubou quaisquer outras prioridades. Na tarde do dia 14 de agosto, a Assembléia foi tomada de assalto para impedir a votação de determinado projeto de lei cujo conteúdo caíra no desagrado de alguns sindicalistas e militantes que acabaram pulando sobre o corrimão existente entre o plenário das galerias e, aos gritos, tocando sinetas, forçaram a retirada dos deputados.
Qual era o projeto? Não vem ao caso. Não há matéria nem hipótese que justifique o ocorrido. Em sucessivas entrevistas, os malfeitores explicaram a violência praticada, com o argumento de que suas posições não estavam sendo ouvidas. Os deputados estavam agindo contra a vontade do povo. Povo? Que povo? Desde quando um bando de privilegiados, dispensados do dever de trabalhar para ganhar a vida, pode ser confundido com povo? O povo está nem aí para os faniquitos ideológicos de quem faz esse tipo de coisa. Aqueles invasores, cidadãos sem compostura, são alienígenas da democracia, tão distantes de seus valores quanto seres de outras galáxias. Eram uns gatos pingados, mas se arvoraram em representantes do povo contra os legítimos detentores de mandato popular. Esse tipo de furto político, aliás, está virando moda. Todo dia, toda hora, em algum lugar, alguém está falando nas tribunas, nos púlpitos, nos palanques ou nos meios de comunicação, sobre o que o povo quer, e que, por mero acaso, coincide com o que o sujeito pensa. Essa apropriação, que nos converte, a todos, em gado do discurso alheio, é uma espécie de abigeato praticado cotidianamente pelos pretensos proprietários do “campo popular”. O povo é o mais plural de todos os conjuntos. Ele é formado por mulheres e homens, por crianças, jovens, adultos e idosos, por pessoas instruídas e incultas (bem como por sábios incultos e acadêmicos tolos). Vive nos campos e nas cidades, no febril anonimato das metrópoles e nas pequenas comunidades onde todos se conhecem. É constituído por pessoas de várias classes sociais, níveis de renda, raça e religião. Há, no povo, grande diversidade cultural e racial. Em cada grupo humano que se analise separadamente encontraremos bons e maus, trabalhadores e vadios, pessoas com e sem esperança, enfermos e sãos, cada qual com suas debilidades e fortalezas, vocações, inclinações e tendências políticas.
Tudo isso é povo. Como pode alguém, pois, apropriar-se de todos e de cada um, à imagem de um enlouquecido aparelho de rádio que sintonizasse, simultaneamente, o conjunto das emissoras?
Resta evidente que tal diversidade só pode ter representação plural e é dela que emergem os parlamentos, nos quais sempre haverá – como expressão dessa mesma pluralidade – maiorias e minorias. Os que desqualificam a maioria para sustentar a superior representatividade popular da minoria desprezam a inteligência e o discernimento alheios. E, sem qualquer pudor, proclamam o oposto disso onde, eventualmente, se instalam no poder. Percival Puggina.

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