CARO SENADOR, O QUE QUER O SERVIÇO PÚBLICO?
Os últimos dez anos no Brasil foram marcados por profundas diferenças, entre os setores públicos, e privado. É água e azeite. Entre as empresas e no mercado de trabalho privado, houve um massacre. Só agora em 2007 é que o rendimento médio mensal dos trabalhadores formais e informais voltou ao patamar do meio da década passada: cerca de R$ 1.100 . Ao longo daqueles anos, quem ganhava melhores salários foi demitido. A vaga fechou ou foi oferecida a alguém por um salário menor. As empresas descapitalizadas desapareceram junto com os empregos que geravam.De dois anos para cá, a economia embicou para cima, mas com nova pressão sobre o setor privado. O real valorizado encareceu em dólares os produtos brasileiros e tirou o couro dos exportadores e de quem teve de competir com a enxurrada dos importados. Para sobreviver, as empresas se mexeram. Aumentaram fortemente a produtividade e enxugaram custos. Nesses dez anos, muitas morreram estranguladas pelo aumento de dez pontos na carga tributária (34% do PIB hoje). Mas a maioria sobreviveu e comemorou em 2007 os elhores balanços da história. Já no setor público, a década de aperto foi um passeio para quem estava protegido no intramuros da estabilidade no emprego e do orçamento frouxo. No Poder Judiciário, o gasto com salários nos últimos dez anos subiu quase seis vezes mais do que a média do funcionalismo federal. Os tribunais e suas extensões também empregaram 28% mais gente. No Legislativo (o glorioso Congresso), a despesa com salários aumentou duas vezes mais do que a média do funcionalismo, e 45% mais pessoas foram empregadas. Já o Executivo, o mais "contido", empregou 5,5% mais funcionários. A média salarial dos ocupados no Brasil hoje é pouco superior a R$ 1.100. Já entre os funcionários públicos do Legislativo, ela é superior a R$ 9.700 para os ativos; no Judiciário, R$ 10.300; no Ministério Público, R$ 12.000. No Executivo (que emprega mais gente) o salário médio é superior a R$ 4.400 entre os servidores civis. Note: todos esses valores contra apenas R$ 1.100, média do rendimento de todos os brasileiros. A coluna da semana passada, O Brasil que não vai para frente sobre o setor público, despertou muitas reações. Algumas reiterando as críticas, outras apontando ilhas de eficiência pelo Brasil. E de funcionários públicos (algumas manifestações estão publicadas ao final com as autorias omitidas). O ponto fundamental, no entanto, é pensarmos de forma panorâmica: que não existe no Brasil hoje um efetivo controle dessa grande empresa chamada Estado. Todos somos, acionistas, financiadores e clientes à espera de um bom serviço, que não é entregue. Qual a razão, senão a falta de metas, punições e prêmios e, acima de tudo, de responsáveis? Não se trata de reforma política, de mudar a Constituição e acabar com a establidade, nada estrutural. É uma questão de organização e planejamento, além de um pouco mais de vergonha na cara. Muito melhor remunerado e protegido do que a imensa maioria, o setor público hoje DEVE ao país. Precisa deixar de ser o grande empecilho em que se transformou. Fernando Canzian, 40, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras. Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras. Autor: Fernando Canzian,
Os últimos dez anos no Brasil foram marcados por profundas diferenças, entre os setores públicos, e privado. É água e azeite. Entre as empresas e no mercado de trabalho privado, houve um massacre. Só agora em 2007 é que o rendimento médio mensal dos trabalhadores formais e informais voltou ao patamar do meio da década passada: cerca de R$ 1.100 . Ao longo daqueles anos, quem ganhava melhores salários foi demitido. A vaga fechou ou foi oferecida a alguém por um salário menor. As empresas descapitalizadas desapareceram junto com os empregos que geravam.De dois anos para cá, a economia embicou para cima, mas com nova pressão sobre o setor privado. O real valorizado encareceu em dólares os produtos brasileiros e tirou o couro dos exportadores e de quem teve de competir com a enxurrada dos importados. Para sobreviver, as empresas se mexeram. Aumentaram fortemente a produtividade e enxugaram custos. Nesses dez anos, muitas morreram estranguladas pelo aumento de dez pontos na carga tributária (34% do PIB hoje). Mas a maioria sobreviveu e comemorou em 2007 os elhores balanços da história. Já no setor público, a década de aperto foi um passeio para quem estava protegido no intramuros da estabilidade no emprego e do orçamento frouxo. No Poder Judiciário, o gasto com salários nos últimos dez anos subiu quase seis vezes mais do que a média do funcionalismo federal. Os tribunais e suas extensões também empregaram 28% mais gente. No Legislativo (o glorioso Congresso), a despesa com salários aumentou duas vezes mais do que a média do funcionalismo, e 45% mais pessoas foram empregadas. Já o Executivo, o mais "contido", empregou 5,5% mais funcionários. A média salarial dos ocupados no Brasil hoje é pouco superior a R$ 1.100. Já entre os funcionários públicos do Legislativo, ela é superior a R$ 9.700 para os ativos; no Judiciário, R$ 10.300; no Ministério Público, R$ 12.000. No Executivo (que emprega mais gente) o salário médio é superior a R$ 4.400 entre os servidores civis. Note: todos esses valores contra apenas R$ 1.100, média do rendimento de todos os brasileiros. A coluna da semana passada, O Brasil que não vai para frente sobre o setor público, despertou muitas reações. Algumas reiterando as críticas, outras apontando ilhas de eficiência pelo Brasil. E de funcionários públicos (algumas manifestações estão publicadas ao final com as autorias omitidas). O ponto fundamental, no entanto, é pensarmos de forma panorâmica: que não existe no Brasil hoje um efetivo controle dessa grande empresa chamada Estado. Todos somos, acionistas, financiadores e clientes à espera de um bom serviço, que não é entregue. Qual a razão, senão a falta de metas, punições e prêmios e, acima de tudo, de responsáveis? Não se trata de reforma política, de mudar a Constituição e acabar com a establidade, nada estrutural. É uma questão de organização e planejamento, além de um pouco mais de vergonha na cara. Muito melhor remunerado e protegido do que a imensa maioria, o setor público hoje DEVE ao país. Precisa deixar de ser o grande empecilho em que se transformou. Fernando Canzian, 40, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras. Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras. Autor: Fernando Canzian,

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