O EXEMPLO DE RICUPERO
No dia 1º de setembro de 1994, o economista e diplomata Rubens Ricupero, ministro da Fazenda de Itamar Franco, preparava-se para mais uma das centenas de entrevistas que concedeu, nos poucos meses em que ocupou a pasta. O Plano Real dava seus primeiros passos como alvo de especulações externas e sinistras investidas internas. Ricupero sucedera, na árdua missão, o ex-titular Fernando Henrique Cardoso que se afastara para disputar o pleito presidencial. Enquanto se ajeitavam as gravatas e as lâmpadas do estúdio, sem saber que o sinal já estava aberto para antenas parabólicas, o ministro confidenciou ao jornalista da Rede Globo, Carlos Monforte: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”.
Quase treze anos depois, no dia 19 de julho de 2007, decorridas apenas 48 horas do maior acidente aéreo da aviação brasileira, Marco Aurélio Garcia, assessor presidencial para assuntos internacionais, foi flagrado por um cinegrafista da Rede Globo festejando, com gesto obsceno, a notícia de que a tragédia de Congonhas podia ter causa em um problema da aeronave.
Dois fatos, dois personagens, dois motivos, duas condutas. Rubens Ricupero segurava o rojão do plano econômico que produziu para o Brasil uma moeda sólida, estável e respeitada, libertando-nos de uma inflação socialmente criminosa e economicamente danosa. A oposição lula-petista atacava a criatura e seus criadores com energias de medalhistas olímpicas. “A mentira do Real” foi à expressão cunhada para designar a moeda que, após seis meses de preparações, contava, naquela data, seus primeiros 90 dias de circulação.
A frase de Ricupero, um homem de bem, correspondia à expressão sincera de seu dever funcional. Cabia-lhe zelar pelo patrimônio nacional representado por um projeto que salvou o Brasil da hiperinflação crônica. Criminoso seria promover anúncios diários de suas angústias. Burrice inominável seria fazer o inverso do que disse, proclamando os problemas e ocultando os êxitos. Mas o PT era o guardião da moralidade nacional, o porta-estandarte do bem, da verdade e da justiça. E o simples fato de o ministro confessar que não divulgava as dificuldades de percurso enfrentadas pela nova moeda (essa mesma que o leitor traz no bolso e sabe quanto vale cada uma de suas unidades) se constituía em insuportável deslize ético. Escândalo! E o bom Rubens Ricupero, o valioso e valoroso Rubens Ricupero, um dos melhores brasileiros vivos, condenado por fazer o que devia, tratado como vilão sob os raios e trovões de um farisaísmo que o futuro se encarregou de desnudar, renunciou ao cargo para preservar o Plano Real da sanha de seus opositores.
O gesto indecente de Marco Aurélio Garcia teve outras motivações. O país era um velório onde ainda se contavam os mortos e ele vibrava com a notícia que parecia servir aos interesses do poder, cuja conquista, preservação e fins sacralizam, para ele, quaisquer meios. Deve ter feito o mesmo quando Ricupero pediu demissão, embora não seja digno de lhe desatar os sapatos. Creio que este paralelo retrata o que fizeram com o Brasil nos últimos anos. Autor Percival Puggina. 29/7/07.
No dia 1º de setembro de 1994, o economista e diplomata Rubens Ricupero, ministro da Fazenda de Itamar Franco, preparava-se para mais uma das centenas de entrevistas que concedeu, nos poucos meses em que ocupou a pasta. O Plano Real dava seus primeiros passos como alvo de especulações externas e sinistras investidas internas. Ricupero sucedera, na árdua missão, o ex-titular Fernando Henrique Cardoso que se afastara para disputar o pleito presidencial. Enquanto se ajeitavam as gravatas e as lâmpadas do estúdio, sem saber que o sinal já estava aberto para antenas parabólicas, o ministro confidenciou ao jornalista da Rede Globo, Carlos Monforte: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”.
Quase treze anos depois, no dia 19 de julho de 2007, decorridas apenas 48 horas do maior acidente aéreo da aviação brasileira, Marco Aurélio Garcia, assessor presidencial para assuntos internacionais, foi flagrado por um cinegrafista da Rede Globo festejando, com gesto obsceno, a notícia de que a tragédia de Congonhas podia ter causa em um problema da aeronave.
Dois fatos, dois personagens, dois motivos, duas condutas. Rubens Ricupero segurava o rojão do plano econômico que produziu para o Brasil uma moeda sólida, estável e respeitada, libertando-nos de uma inflação socialmente criminosa e economicamente danosa. A oposição lula-petista atacava a criatura e seus criadores com energias de medalhistas olímpicas. “A mentira do Real” foi à expressão cunhada para designar a moeda que, após seis meses de preparações, contava, naquela data, seus primeiros 90 dias de circulação.
A frase de Ricupero, um homem de bem, correspondia à expressão sincera de seu dever funcional. Cabia-lhe zelar pelo patrimônio nacional representado por um projeto que salvou o Brasil da hiperinflação crônica. Criminoso seria promover anúncios diários de suas angústias. Burrice inominável seria fazer o inverso do que disse, proclamando os problemas e ocultando os êxitos. Mas o PT era o guardião da moralidade nacional, o porta-estandarte do bem, da verdade e da justiça. E o simples fato de o ministro confessar que não divulgava as dificuldades de percurso enfrentadas pela nova moeda (essa mesma que o leitor traz no bolso e sabe quanto vale cada uma de suas unidades) se constituía em insuportável deslize ético. Escândalo! E o bom Rubens Ricupero, o valioso e valoroso Rubens Ricupero, um dos melhores brasileiros vivos, condenado por fazer o que devia, tratado como vilão sob os raios e trovões de um farisaísmo que o futuro se encarregou de desnudar, renunciou ao cargo para preservar o Plano Real da sanha de seus opositores.
O gesto indecente de Marco Aurélio Garcia teve outras motivações. O país era um velório onde ainda se contavam os mortos e ele vibrava com a notícia que parecia servir aos interesses do poder, cuja conquista, preservação e fins sacralizam, para ele, quaisquer meios. Deve ter feito o mesmo quando Ricupero pediu demissão, embora não seja digno de lhe desatar os sapatos. Creio que este paralelo retrata o que fizeram com o Brasil nos últimos anos. Autor Percival Puggina. 29/7/07.
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