terça-feira, 23 de novembro de 2010

ATÉ A MEDIOCRIDADE SE RAREFAZ

Em O Homem Medíocre, Jose Ingenieros escreve um capítulo instigante, que submeto à reflexão dos leitores. Diz Ingenieros: “Em todos os tempos, a ditadura dos medíocres é inimiga do homem virtuoso. Prefere o honesto e o exibe como exemplo. Mas há nisso um erro ou mentira que cabe apontar. Honestidade não é virtude, ainda que não seja vício. A virtude se eleva sobre a moral corrente, implica certa aristocracia do coração, própria do talento moral. O virtuoso se empenha em busca da perfeição. O honesto, ao contrário, é passivo”.
Com efeito, não fazer o mal é bem menos do que fazer todo o bem que se possa. Ser honesto e se proclamar como tal para consumo externo é moldar-se às expectativas da massa e isso fica muito aquém da verdadeira virtude. O medíocre, dirá Ingenieros, teme a opinião pública porque ela é a medida de todas as coisas, senhora de seus atos. Nessa exata perspectiva, o filósofo sentencia: “Não há diferença entre o covarde que modera suas ações por medo do castigo e o cobiçoso que age em busca da recompensa”.
Quantos existem, de uns e de outros, na vida social! Eles estão nas empresas disputando postos, nas salas de aula ansiando pelos favores dos mestres, na vida pública buscando aplauso e voto. Súditos da maioria, apontam seu dedo cobiçoso ou covarde sempre que vislumbram, nos demais, algo que possa ser apontado como falha ou falta. Cada sucesso por essa via é um passo na direção do que denominam vitória e um recuo em relação à verdadeira virtude. Afirma Ingenieros: “A sociedade proclama: ‘Não faças mal e serás honesto’. Mas o talento moral tem outras exigências: ‘Persegue a perfeição e serás virtuoso’. A honestidade está ao alcance de todos; a virtude é uma escolha de poucos. O homem honesto suporta o jugo a que o prendem seus cúmplices; o virtuoso se eleva sobre eles com um golpe de asa”. São palavras que queimam a palha da mediocridade e incendeiam a alma dos que buscam a virtude porque é nela, e não na simples honestidade, que se medem os valores da aristocracia moral. Infelizmente, a leitura de “O homem medíocre” nos expõe duas alarmantes realidades nacionais: 1º) não estamos sob o comando dos virtuosos, nem dos honestos, mas dos impostores, ou seja, dos sepulcros caiados de que trata o Evangelho; e 2º) até a medíocre honestidade se faz, a cada dia, mais e mais rara, a ponto de ansiarmos por ela como se fosse um bem, em si mesma.Autor: Desconhecido. Difusão: Geraldo Porci de Araújo. 25/02/07.

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