terça-feira, 23 de novembro de 2010

O ENFORCAMENTO DE SADDAM

As cenas do enforcamento de Saddam Hussein, graças à filmagem furtivamente feita por um dos presentes ao ato e à propagação facultada pela internet, correram o mundo em poucas horas, despertando generalizada repulsa. De fato, o método pelo qual se executa alguém, independentemente da violência que caracteriza tal tipo de pena, pode acrescentar perversidade ao ato. E o enforcamento é um modo perverso. Para que se compreenda bem esse efeito - repulsa, é bom lembrar que na maior parte dos códigos penais do Ocidente a crueldade contra a vítima agrava a pena do criminoso. Não se trata, portanto, de ficar com dó de Saddam, nem de o considerar injustiçado, mas de reação natural ao método utilizado para mandá-lo desta para a melhor.
Saddam foi julgado por um tribunal iraquiano. Não tenho condições de afirmar se todos os atos processuais obedeceram, ou não, os devidos requisitos porque as opiniões sobre isso, como de hábito, estão divididas. É sabido, em qualquer hipótese, que o ex-ditador estava sendo julgado por ser um criminoso brutal. O que não dá para aceitar é a imensa contradição em que incorrem alguns analistas brasileiros da situação. De um lado, estimulados pelo antiamericanismo que caracteriza o consciente, o subconsciente e o inconsciente nacional, reprovam as tentativas de se implantar uma democracia no Iraque afirmando que isso significa desconhecer e desrespeitar a cultura local. De outro, condenam uma execução procedida em conformidade com essa mesma cultura. Pode? Ora, existem culturas respeitáveis e culturas indignas de qualquer respeito. O bandido que coopta adolescentes para os converter em homens-bomba, o faz como agente de uma cultura local que deve ser abominada e, se possível, substituída. O grupo religioso que submete suas mulheres a clitoridectomia não segue, nesse rito machista infame, qualquer valor cultural que mereça respeito. O estudante islâmico do sexo masculino, imigrante no Ocidente, que não aceita ordens de suas professoras “porque homem não obedece à mulher” não deve ser respeitado por isso, mas corrigido. E, para que não se diga que não falei de nós mesmos, uma “cultura” que joga sujeira nas ruas, pisoteia canteiros das praças, destrói a Amazônia e sufoca com porcarias o rio dos Sinos, é uma cultura suja que precisa ser passada a limpo. Em resumo, existem culturas e culturas. E não devemos ser tolerantes com monstruosidades simplesmente porque os monstros que as praticam têm, por mero acaso, ideologia semelhante à nossa ou adversários em comum conosco. Autor: Pe rcival Puggina. Difusão: Geraldo Porci de Araújo. 02/01/07.

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