terça-feira, 23 de novembro de 2010

O GRANDE DESEDUCADOR.

Percival Puggina Zero Hora, 18/02/07 “O caderno das coisas importantes”, cartilha voltada ao público adolescente sobre temática sexual, elaborada pelos ministérios da Educação e da Saúde, vem causando polêmica nacional. Segundo noticiado, a cartilha trata da atividade sexual como curtição e se preocupa apenas com aspectos relacionados à saúde física: camisinha, gravidez, prevenção de DST, AIDS, e assim por diante. No mais, é “prafrentex”: compara beijo a chocolate, fala de sexo e suas preliminares como liberação de endorfinas, eqüivale o coito a uma “brincadeira a dois”, recomenda seduzir, cheirar, experimentar, e abre espaço para os jovens escreverem sobre suas “ficadas” mais sensacionais. Segundo os técnicos e as autoridades responsáveis, o documento lida com a realidade da adolescência.
Em palavras simples e claras, o governo aborda o assunto da mesma forma que, internamente, trata das questões morais: usando e abusando de um realismo cínico, segundo o qual certas coisas são como são, sem cogitar sobre como deveriam ser. Usou camisinha, não adoeceu, não engravidou, não passou recibo e a imprensa não descobriu, está tudo muito bem.
Se o governo é um grande parque de diversões, cercado de futilidades, por que não tratar o corpo humano da mesma forma? Os jovens “ficam”? “Fiquemos” com o povão! Se somos irresponsáveis e deseducados para as tarefas de Estado, por que educaremos os jovens para a sexualidade responsável? “Temos que lidar com os fatos como eles são”, proclamam os peritos dessa pedagogia indigna. Ótimo! Os alunos não gostam de matemática? Ensinemos “ficadas”. Foram mal no ENEM? Façam neném. Detestam temas de casa? Treinem a colocação de camisinha. Congressistas trocam votos por cargos? Cargos para eles.
Se considerarmos o corpo humano como um playground, em relação a cujo uso não incidam restrições, por que evitaremos outras fontes de prazer que ele proporciona? Por que nos recusaremos a quaisquer impulsos? Drogas, vícios, perdições? Diferentemente dos outros animais, perante o desejo sexual, o ser humano pode responder sim ou não. E isso implica importantíssima decisão moral, sendo a adolescência o momento próprio para tal aprendizado. Mas ninguém dá o que não tem. Por outro lado, torna-se fácil compreender, nesse viés, o comportamento de muitos homens públicos, posto que também o poder é fonte de prazeres. E vale o mesmo para outros tantos em relação à conduta predatória determinada pela ganância.
Nossa juventude, precocemente erotizada pela grande mídia, com a vontade fragilizada pela falta de restrições, convivendo com os péssimos exemplos proporcionados por adultos e autoridades, agindo sem medir conseqüências, pede informação, sim. Mas grita por orientação, senhores! A natural rebeldia contra os necessários limites não é nem pode ser motivo para sua eliminação. Há palavras duras no Evangelho para a situação de que trato: “Aquele que escandalizar um destes pequeninos (..,), melhor seria que pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho e se precipitasse na profundeza do mar" (Mateus 18.6). Faltaria pedra nos moinhos. Autor: Percival Puggina. Difusão: Geraldo Porci de Araújo. 24/02/07.

Nenhum comentário:

Postar um comentário