terça-feira, 23 de novembro de 2010

DE BORBOLETA A LAGARTA

A transformação de uma lagarta em borboleta é de exemplar riqueza poética e estética. A lagarta é feia, a borboleta bonita; a lagarta se arrasta sobre o próprio ventre, a borboleta adeja livre; a lagarta se esconde, a borboleta domina o cenário com sua irrequieta presença. Mas a lagarta e a borboleta não têm escolha: aquela não pode deixar de evoluir; esta não pode regredir. Já o homem e a mulher nascem como obras-primas do Criador, mas têm a faculdade de eleger para si mesmos o destino das lagartas. E creio que nunca como nestes tempos tais, escolhas, se fizeram de modo tão radical; jamais, para inteiro descrédito da borboleta, se exaltou tanto a lagarta que existe em nós! A virtude é varrida para baixo dos tapetes e as degradações exibidas no alto dos telhados.
Dezenas de milhões de espectadores se aferram às telinhas para assistir (e alguns pagam para fazer isso em tempo integral) a fatuidade e a inutilidade de um grupo de abobados fazendo e dizendo nada que preste, numa prisão de luxo. É a notoriedade das lagartas. A droga é outra das muitas faces dessa metamorfose às avessas. Traficantes sentam-se no Congresso Nacional; os “chapados” da Zona Sul carioca elegem e reelegem deputado o seu verde Gabeira. Bandas de roque levam multidões de jovens ao delírio com sua histeria, berrando letras que são um réquiem à caretice das borboletas. Há alguns anos chegamos ao absurdo de um fabricante de roupas espalharem outdoors informando que seus jeans custavam menos do que três gramas de cocaína e agitavam muito mais. Assim, a droga vai chegando a toda parte, instituindo seu Estado Paralelo, viciando, afetando cérebros, destruindo carreiras e famílias, convertendo escolas em centros de tráfico, diminuindo a percepção e a motivação, arrastando à marginalidade, matando e produzindo assassinos, corrompendo, calcinando afetos e transformando borboletas em lagartas que se arrastam no implacável e dilacerante casulo do vício.
Os agentes de todas as modalidades de metamorfose às avessas têm marqueteiros, dinheiro, organização, propaganda e força política. E nós? O que temos feito além de cuidar, insuficientemente, das vítimas de tais flagelos? É mais do que tempo de uma ação educativa, legislativa, política, jurídica, policial, militar, pastoral e familiar, contra os muitos modos através dos quais se destrói a juventude. Talvez o pior de tudo isso esteja no fato de responsabilizarmos as vítimas por aquilo que delas fizeram os adultos que traficam, as autoridades que se omitem, os relativistas da esquerda, e da direita, e os muitos que, na mídia, dela se valem para destruir valores insubstituíveis por qualquer coisa que preste. Autor: desconhecido. Dufusão: Geraldo Porci de Araújo. 10/3/07

Nenhum comentário:

Postar um comentário